A morte da tendência
Quando comecei a esboçar meu trabalho com moda, lá em 2010, o mercado de moda e as pessoas que o ocupavam eram movidas por um termo bem forte no vocabulário controlado fashion: tendência.
Depois de muitos anos trabalhando e pesquisando sobre esse mercado, e vendo os seus discípulos pularem de uma tendência para a outra, ultimamente, um movimento de busca pela identidade e unicidade de estilo tem surgido no lugar da procura cega pela tendência.
Se você parar para pensar um pouco mais sobre como era o panorama da moda há uns 10 anos, mas não da moda como movimento, e sim como consumo, vai lembrar de como as lojas produziam e reproduziam as tendências de maneira urgente e agressiva.
Talvez pelo fato de a informação não ser tão líquida como hoje, com Instagram e TikTok, as tendências chegavam ao consumidor massivo como já quase obsoletas. E isso fazia com que os estoques de loja ficassem abarrotados de peças passadas e cansadas, pois aquela tendência já estava em seu declínio.
Com isso, o ciclo do consumo só aumentava, pois, da mesma forma que as tendências surgiam com força, elas iam embora com a mesma intensidade e velocidade.
Tendência x consumo x identidade
Um episódio muito vívido sobre esse boom da tendência ainda me é muito presente na memória, por conta de um período em que trabalhei com Visual Merchandising em uma fast fashion, em meados da década passada.
Lembro-me de quando o metalizado entrou em alta e era um verdadeiro festival de peças cromadas com prata e dourado. Era um cenário de Réveillon em pleno agosto. E assim, como essas peças surgiram em alta para grande parte da população, elas deixaram de ser desejo assim que seus consumidores se viram refletidos em outros seguidores de tendência com o mesmo visual.
Antes do minimalismo tomar seu lugar de direito e deixar a gente ver primeiro o rosto das pessoas e depois o que elas estão vestindo, tivemos ainda um longo período da logomania, onde as marcas buscavam trazer seus logos errantes estampados em suas peças. Vide Baco Exu do Blues, lá em 2018, em sua faixa “Me Desculpe Jay-Z”, onde ele diz “Quero Balenciaga estampado na minha camisa…”. Passou.
Quanto tempo dura uma tendência?
Se pensarmos então nas microtendências que apareceram no TikTok durante o momento pandêmico, como o Y2K, por exemplo, vemos ainda como elas surgiram e morreram ainda mais rápido do que as suas antecessoras na década passada.
A explicação dessa saturação é o mesmo que qualquer outro viral na plataforma. De acordo com o seu passar de dedo na tela de rolagem infinita, mais e mais reproduções do mesmo vão surgindo, e, com isso vem aquele cansaço visual.
E é com esse cenário de estafa fashion que se encontra o momento de transição que dá lugar a era atual de morte da tendência.
Tendência, descanse em paz
Com o apego ao minimalismo e busca pela identidade, muitas pessoas começaram a deixar de lado o que estava em alta, para buscar aquilo que lhe fazia sentido.
Com isso, algumas marcas de fast fashion como a Renner, por exemplo, começaram a dar mais atenção a suas coleções de básicos, trazendo mais variedade e informação de moda a peças que antes eram tidas como aquelas roupas de ficar em casa. E até impulsionou o surgimento de marcas mais autorais, como a Soul Básico, que busca não só vestir uma pessoa e mostrar a sua marca, mas sim, mesclar seus produtos com a identidade do seu consumidor.
Nesse panorama atual, o consumidor de moda ganha mais voz, pois ele não está mais sozinho e sendo somente alimentado pela elite da informação da moda, como era há uns anos, com as celebridades e revistas.
Hoje, este se encontra munido de informação e também influência, pois as redes sociais deram esse poder – para quem sabe usar. Dessa forma, o consumidor não só consume moda, como também não vê tanto valor nas tendências passageiras, que vieram perdendo força até chegar ao momento de sua morte, como as conhecíamos.
O legal desse movimento é que ele dá lugar a pessoas com identidade, em vez de manequins sem estilo que antes deixavam apenas as suas roupas falarem por si.
O qualitativo está, de fato, vindo de dentro pra fora, e a roupa não é mais relevante do que quem a veste.
Quanto tempo o fio (linha) de algodão, tipo para crochê, leva para decompor no mar? E as pérolas plásticas?
Oi, Tuka! Falamos um pouco sobre isso aqui: https://soudealgodao.com.br/blog/afinal-quanto-tempo-o-algodao-demora-para-se-decompor-na-natureza/