Moda e sustentabilidade: os desafios ainda são sobre o que se entende sobre planeta
“Grande parte dos contextos de crises que vivemos é aquilo que fizemos como seres humanos e só cabe a nós resolver esse grande problema que criamos”.
A fala do CEO da marca Patagonia, Ryan Gellert, que foi uma síntese do tema da sua palestra no South by Southwest® (SXSW), maior evento de inovação e tendências de comportamento do mundo, mostra que sustentabilidade, conexões humanas e afeto nas relações ainda são atuais e parecem não sumir da agenda de discussões por um tempo.
Tudo isso devido ao fato de que se fala demais em futuro e aplica-se pouco: ações são urgentes em relação ao meio ambiente, às pessoas lidando com o espaço em que atuam e também aos afetos que deveriam ser vivenciados na nossa relação com o planeta.
Definitivamente, estamos desconectados. Ainda mais quando se refere a nossa forma de pensar consumo e na relação entre moda e sustentabilidade.
E não tem jeito: falar sobre moda e futuro é falar sobre sustentabilidade. Mas, quando pensamos sobre isso, parece haver uma distância sobre o que, exatamente, é prioridade.
Moda e sustentabilidade: a hora é agora
Os números chocam e expõem ainda mais a emergência sobre os fatos. Somente na cidade de São Paulo, cerca de 55 toneladas de resíduo têxtil são descartadas por dia nas calçadas, de acordo com dados do SustexModa, núcleo de apoio à pesquisa da EACH-USP.
Neste contexto, surgem comportamentos de consumo e, consequentemente, novas formas de produção. Marcas se tornam ativistas – muitas vezes mais nas narrativas do que na ação –, e os consumidores ficam mais exigentes, pois o ato de comprar sem uma causa, ou troca benéfica para o mundo, gera culpa.
Compreensão, de fato, ou apenas culpa?
Tanto empresas quanto consumidores passaram a pautar suas atitudes ainda sob a lógica, tão somente, da produção e do consumo, e não em si ou sobre tudo que está em jogo.
Quando entendemos que, atualmente, a ‘Terra’ se tornou o principal acionista de qualquer empresa e que o indivíduo privilegiado em suas posições sociais tem que ser cidadão antes de ser consumidor, o jogo começa a mudar.
Mas por que ainda não mudou? Justamente pela complexidade de se pensar e fazer sustentabilidade. Mais do que práticas, sustentabilidade é modelo de pensamento, que transborda além da consciência do consumo no dia a dia.
Ela necessita de uma ação que tenha, em sua essência, a clareza do que está em jogo. E quais passos seriam efetivos? Leis que garantam e exijam processos de produção limpos e responsáveis por parte da empresa e educação ambiental para todos.
É preciso colocar na ponta do lápis toda a conta que a negligência humana gera no planeta como bagagem extra e deixar esses números visíveis e acessíveis. Pois, somente assim, vamos conseguir falar de moda e sustentabilidade com transparência e urgência.
Assim como disse Ailton Krenak em A Vida Não é Útil, “o futuro é aqui e agora, pode não haver o ano que vem. Temos de parar de ser convencidos. Não sabemos se estaremos vivos amanhã. Temos de parar de vender o nosso amanhã.”
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Desde sempre sou a favor de roupas de algodão. Por ser respirável.Assim como o alimento (integral)!Aliás sou ALÉRGICA A TECIDOS SINTÉTICOS !
Algodão é tudo de bom, não é, Maria Amélia? 😀