Falta de apoio e comunicação falha: os desafios na gestão de resíduos têxteis brasileiros
O que é responsabilidade compartilhada na gestão de resíduos têxteis e reciclagem? Por que o Plano Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) não resolve a questão definitivamente?
Buscando entender os caminhos que nos levaram a situações como o cemitério têxtil do Atacama, hoje, vamos destrinchar a cadeia produtiva e sua geração de resíduos têxteis para compreender a responsabilidade ambiental e compartilhada (empresas x consumidores) envolvida nessa questão. Mas, para começar, o que é responsabilidade compartilhada?
Prevista por lei, a responsabilidade compartilhada é a indicação de até onde deve ser responsabilizado cada ator da cadeia pela gestão dos resíduos. Essa previsão pode mesclar empresas e consumidores, a depender do tipo de resíduo, buscando garantir que a destinação final seja adequada ambientalmente.
Por exemplo: a empresa que comercializa roupas no varejo deve indicar o descarte correto da peça têxtil e criar condições, como pontos de coleta para efetivar essa destinação. Já a responsabilidade do consumidor é ter consciência ambiental e depositar suas peças que “não têm mais uso” nos pontos de coleta indicados. Assim, se efetiva a responsabilidade compartilhada.
No entanto, essa dinâmica, mesclando clientes e empresas, é efetivada apenas com resíduos de pós-consumo, ou seja, aquilo que é descartado após sua vida útil com o consumidor final. Já os resíduos de pré-consumo têm uma relação de tratativa entre indústrias que geram insumos e/ou produtos para outras empresas.
Quais são as diferenças de cada tipo de resíduo têxtil?
Resíduo de pré-consumo: é toda “sobra” de matéria-prima têxtil gerada dentro da empresa. Habitualmente, são materiais virgens (sem uso anterior) e sua maior parte é gerada na etapa de corte, porém podem ser provenientes de outras etapas caso não passem no controle de qualidade.
Resíduo de pós-consumo: são gerados após o uso dos produtos comercializados que acabam sendo destinados ao descarte por motivos diversos. Uma consideração importante é que todo produto é um futuro resíduo.
Como é feita a gestão de resíduos têxteis no Brasil?
Facções, confecções e marcas de moda são os principais atores na geração de resíduos têxteis. Considera-se que 90% da produção têxtil de vestuário é realizada por micro e pequenas empresas, de acordo com dados da Associação Brasileira do Vestuário (Abravest), consequentemente, elas também são as principais fontes geradoras de resíduos de pré-consumo. Já as marcas que comercializam no modelo B2C detêm a geração dos resíduos de pós-consumo.
A cadeia produtiva no Brasil é a maior do ocidente e também a mais completa desde o plantio, confecções e comercialização ao consumidor final. Atualmente, são mais de 22 mil unidades produtivas no setor.
De acordo com o relatório “Fios da Moda”, lançado em 2021 pelo Modefica, apenas na região do Brás, bairro considerado polo têxtil na cidade de São Paulo, 16 caminhões de lixo têxtil têm destino ao aterro sanitário por dia. O que deixa os dados ainda mais preocupantes é considerar a visão do consumidor que carece, assim como as empresas, de comunicação educativa para o tema, uma vez que, de acordo com pesquisa, 49,9% dos entrevistados nunca ouviram falar de reciclagem de roupas.
Mesmo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que completou 13 anos, pouco se tem avançado do ponto de vista prático, seja para fiscalização e penalização do descarte irregular ou pela falta de material de apoio educativo para micro e pequenas empresas, principais fontes geradoras. Elas, muitas vezes, não contam com profissionais e setores específicos para efetivar o Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS).
Por isso, com uma legislação e comunicação que não se adaptam ao princípio da isonomia – endereçando responsabilidades equitativas para cada porte empresarial –, a previsão de melhoria para a gestão de resíduos têxteis segue pessimista e dependente de adaptações informais para evitar o descarte irregular.
E sua marca, como busca superar os desafios e priorizar práticas mais ecológicas do descarte têxtil?
Aproveite para preencher a pesquisa: ‘Desafios da gestão de resíduos têxteis – para pequenas empresas”, que mapeia problemáticas na área para promover soluções através do estudo acadêmico.
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