João Pimenta no SPFW N57: tudo que você precisa saber!
Em uma entrevista exclusiva para o movimento, o estilista João Pimenta compartilhou suas escolhas para essa nova coleção, a importância de conhecer a procedência dos tecidos e como foi criar peças casuais pela primeira vez.
Seu desfile no SPFW N57, que acontece no domingo (14/04), também faz parte do calendário de eventos do consagrado e centenário edifício Martinelli, que completa 100 anos. Agora, o prédio abre suas as portas para um futuro da moda mais responsável.
Se você já está curioso para saber o que fez o estilista se reinventar nessa edição do SPFW, tente se segurar ao conferir a resposta da última pergunta.
[SDA] Como aconteceu sua parceria com o movimento para produzir este desfile?
JP: A minha relação com o Sou de Algodão é bem antiga. Conheci o movimento através do Paulo Borges, do SPFW, que me convidou para fazer um desfile onde eu teria que trabalhar com essa fibra. Na sequência, a convite da equipe, conheci uma fazenda de algodão em Goiás e me apaixonei pelo projeto! E, de lá para cá, nós sempre estivemos juntos de alguma forma.
Com a divulgação do 3º Desafio Sou de Algodão + Casa de Criadores, comecei a fazer alguns projetos e palestras com o Sou de Algodão. Fomos para a PUC de Campinas, a UCS em Caxias do Sul e conversamos sobre a possibilidade de trabalharmos novamente, uma vez que o movimento não iria se apresentar nesse primeiro semestre do SPFW.
Entendemos como poderia rolar essa parceria e amarramos tudo para seguir com o desfile. Eu tinha um desejo muito diferente de produzir uma coleção mais street, menos conceitual e menos teatral. E, para isso, precisava de uma matéria-prima real. Trabalho muito com materiais exclusivos, diferenciados e experimentais, mas queria estar com um produto que fosse mais verdadeiro, como o algodão. Ele é um tecido que conhecemos a procedência e sabemos de onde veio, além de ter fácil manuseio, costura e lavagem.
Essa parceria é uma possibilidade muito legal de conhecer esses fornecedores que são parceiros do movimento, já que eu não tinha esse espaço nas fábricas. O Sou de Algodão me apresentou essas empresas e conhecemos novos materiais. Então, essa collab, na verdade, vem como uma forma de evolução para a minha marca, tendo mais diversidade de tecidos e conhecimento sobre a tecnologia que envolve alguns produtos.
[SDA] Pela primeira vez, você apresenta para o público uma coleção masculina e “pronta para vestir”. O que te levou a fazer essas escolhas? Qual o conceito por trás da coleção?
JP: A minha modelagem é fluida, ela veste todos os gêneros. Não temos um público extremamente definido, nós flutuamos por todos eles, desde idades a sexos diferentes. Acho isso muito bacana, pois minhas peças sempre foram produzidas com esse olhar de vestir todo mundo.
Sempre fiz masculino, essa é a base das minhas roupas, mas elas também são muito experimentais. Gosto de usar a passarela como uma forma de linguagem. Estou sempre tentando expressar algo político e meus sentimentos. Para mim, a roupa vai além de um produto, ela é uma linguagem forte. E eu, considerado um rapaz tímido, uso as roupas como uma forma de me comunicar com as pessoas. Quando descobri que as roupas falavam, encontrei meu canal de comunicação.
Tenho dentro do meu ateliê essa diversidade gigante de público e pessoas de todos os poderes criativos. Trabalhamos com saias, vestidos, brilho, tecidos diferenciados e agora me veio a vontade de ter uma coleção um pouco mais real, porque também tenho interesse em difundir mais a marca e atingir outras pessoas.
Comecei a pensar que eu deveria ser um pouco menos experimental e, ao voltar o olhar para o estilo street, tive a oportunidade de desenvolver coisas que nunca tinha feito antes, como calças cargo e camisas polo. Essa coleção é o resgate desse masculino menos fluido, mas sem renunciar ao nosso público. Queremos abraçar essa estética que é um pouco mais do menino da rua, do skatista, do surfwear, e tentar pensar numa diversidade real. O desejo é de incluir sem excluir.
[SDA] Quantas peças desfiladas são de algodão e por que você escolheu essa matéria-prima?
JP: 70% da coleção apresentada será com essa fibra, diferente do nosso outro trabalho com o movimento no SPFW, onde 100% da coleção era de algodão.
Como queremos estar nesse lugar mais street e ter uma pegada meio clubber, os outros 30% trabalhamos com paetê, náilon, lã e pelos. O algodão vem para trazer esse conceito mais utilitário e pé no chão.
[SDA] Como o algodão é explorado nesta coleção e qual a importância de ter tecelagens brasileiras que entregam essa variedade de tecidos?
JP: É pela sua praticidade e facilidade de manuseio. Como faço muita alfaiataria, as costuras têm que ficar impecáveis e com uma boa passadoria. E o algodão me dá esse lugar de costuras bonitas, bem-feitas e com qualidade.
E a questão de ter esse contato com as tecelagens possibilita que eu tenha uma matéria-prima de qualidade, o que para mim é um grande diferencial. Quando voltava para repor o meu material, já não encontrava mais aqueles produtos. As pessoas falavam: “isso aqui é algodão com seda”, mas, apesar dos meus 20 anos de experiência, era impossível ter certeza da mistura daquele tecido. Ao comprar diretamente de um fabricante, tenho certeza do produto e muito mais controle em saber o que estou comprando. Por exemplo, me apaixonei pelos materiais da RenauxView e essa proximidade traz fidelidade também.
Meu objetivo agora é conseguir comprar em maior quantidade e, conhecendo esses fornecedores, estando nas fábricas e vendo essa diversidade de tecidos, consigo profissionalizar ainda mais o meu trabalho.
As empresas parceiras Ibirapuera Têxtil, Tecidos Constâncio Vieira e Textilfio também apoiam este desfile.
[SDA] Por que escolher o Martinelli para apresentar sua coleção?
R: O Martinelli, para mim, sempre foi um ícone pela história e pela sua arquitetura. Ao longo desses 100 anos de existência, já aconteceram muitas coisas por lá. Ele já foi invadido, abandonado, reformado, serviu como suporte para canhões em guerra e está localizado no centro da cidade. E essa localização fala desse lugar, de onde estão todos ao mesmo tempo, porque, se pensamos que nos bairros mais sofisticados só tem gente rica e na periferia só tem gente pobre, no centro está todo mundo junto.
Foi uma coincidência muito grande eles estarem fazendo esses 100 dias de eventos para comemorar os 100 anos do prédio. Quando vi que estava acontecendo, entrei em contato com a pessoa que fez a concessão do prédio por 15 anos e era um cliente da loja, um cara que já viu meus desfiles e na hora topou! Começamos a fazer parte desse calendário de comemoração do prédio que acabou servindo de inspiração para o meu trabalho.
A nossa coleção ganhou as cores do prédio, ganhamos letreiros nas camisetas que contam a história desses 100 anos do edifício e assinamos uma collab de produtos com o Martinelli Entre eles, um perfume que será entregue nesse trabalho. Estamos muito felizes e torcendo para que não chova, rs.
[SDA] Como surgiu a escolha de ser o responsável pelo styling do desfile? Isso já aconteceu antes?
R: Quis fazer o styling desse desfile porque imaginei que esse trabalho tem que ser sangue puro, sabe? O stylist ajuda muito, né? Ele dá outros caminhos para a coleção e, como não tem o mesmo afeto de quem criou as roupas, traz um olhar de fora.
Só que esse trabalho, em específico, em que a gente planeja fazer uma inclusão de outros estilos — e é uma coisa que desejo há muito tempo — precisava ter o styling da casa, ter raiz, tem que ser feito e pensado com a cabeça da marca, entendeu? Sem uma interferência.
Eu e minha equipe estamos assinando essa parte. Todos estão envolvidos e estão me ajudando com sugestões e palpites para a gente construir um trabalho que tenha a cara da marca.
[SDA] Alguma curiosidade sobre o desfile que você gostaria de ressaltar?
P: Bastante coisa! Pela primeira vez vamos sobrepor roupas, então criamos looks que começam básicos e vão ganhando camadas. Ao todo, serão 40 modelos que entrarão 3 vezes na passarela, isso fará com que as pessoas tenham a ideia de que apresentamos 120 looks. Quando fazemos essa inserção de mais peças, nós acabamos transformando o visual. Além disso, o formato do desfile estará muito casado com o street, porque os modelos vão entrar juntos e trazer esse movimento da rua, de várias pessoas ao mesmo tempo para a passarela.
Para saber mais sobre o estilista e conferir a estreia dessa coleção, acompanhe seu trabalho no Instagram em @joao_pimenta.
Eu sempre leio a etiqueta, dou preferência, quando se tem 100% algodão; também amo quando está na etiqueta; feito no Brasil; pois sabemos; que o Brasil é rico praticamente em tudo;