Conheça Guilherme Dutra, o novo nome da moda autoral brasileira
O vencedor do 2º Desafio Sou de Algodão + Casa de Criadores, Guilherme Dutra, fala sobre como a experiência impactou sua vida profissional, inspirações para a coleção “Arô” e quais caminhos foram abertos após o desfile.
Existe um ditado popular que afirma: “quem não sabe de onde veio, não sabe pra onde vai”. Mas, quando falamos da história do povo negro no Brasil, que teve a sua trajetória interrompida, como definir aonde vamos? Seria essa a possibilidade de recriar um futuro sem temer o passado?
Foi na busca por essas respostas que a coleção do estilista Guilherme Dutra, “ARÔ-EU SAÚDO”, surgiu, criando a estética vencedora do 2º Desafio Sou de Algodão + Casa de Criadores. A final aconteceu dia 7 de julho, em São Paulo.
A coleção contemplou os Orixás africanos e criou um futuro – distante, mas não impossível – em que mulheres e homens negros descendentes de reis e rainhas resgatam o seu legado e dão vida a um novo reinado.
Tudo isso, com muito estilo, elegância e algodão! Acompanhe a nossa troca de ideias e saiba mais sobre o colírio dos jurados, que foi aplaudido de pé por importantes nomes da moda nacional que compareceram ao evento.
SdA – Gui, fale um pouco sobre como foi o processo criativo para sua coleção?
GD: O meu processo criativo sempre foi muito vivo e fluido, deixo as ideias me levarem a caminhos que eu não imaginava e acabo chegando a resultados satisfatórios. Raramente o que eu desenho não sofre mudanças ao longo do processo. Um acabamento, em que no princípio não pensei, acaba sendo o diferencial da peça no resultado final!
Para criar a coleção ARÔ – EU SAÚDO, realizei muitas pesquisas, separando palavras-chave que foram usadas na construção de um mapa mental com figuras e palavras que remetiam ao tema, e foi de onde eu tirei as cores, formas e volumes.
Depois, eu desenhei os croquis e, por último, construí as peças paralelamente à imagem de moda, que é uma das coisas mais importantes na narrativa do meu trabalho. Acredito que esse é o primeiro diálogo direto que temos com o público, é o que toca. A primeira impressão!
SdA – Como foi sua experiência em trabalhar exclusivamente com o algodão e qual papel essa fibra teve no seu processo criativo?
GD: Foi uma experiência incrível trabalhar com o algodão! Como um dos meus segmentos era alfaiataria, eu precisava de tecidos que tivessem uma boa estrutura e, ao mesmo tempo, um toque suave e agradável para a construção dos blazers. Nessa busca, acabei encontrando a sarja peletizada que serviu de base para essas peças. Além de usar a técnica de serigrafia (um tipo de estampa manual) que performou super bem com o algodão, a fibra absorveu a tinta, fazendo com que o acabamento ficasse preciso e limpo na superfície do tecido.
SdA – De qual forma sua orientadora preparou você para este concurso?
GD: A Simone Mina foi minha orientadora para o concurso e para o meu trabalho de conclusão da graduação, uma mentora incrível! Foi uma longa jornada de pesquisa, indicações de livros, provocações de sempre pensar além do comum, provas e comparações dos croquis e protótipos até o resultado final.
SdA – Conte um pouquinho sobre a experiência de participar do 2º Desafio Sou de Algodão + Casa de Criadores!
GD: Foi a realização de um sonho! Eu queria muito ter participado da 1º edição, mas eu tinha acabado de ingressar na faculdade e não me sentia preparado. Acompanhei de perto todos os desfiles e sonhava em apresentar minha coleção nesse evento, que é fundamental para valorizar a moda autoral. Foi uma experiência inesquecível e que agregou na vida de todos os participantes. Aquela noite, com toda certeza, ficará marcada na nossa memória para sempre! Sou muito grato a todos os colaboradores e à equipe que fez esse evento acontecer com tanta competência e seriedade, tornando realidade os sonhos de jovens estilistas.
SdA – Qual foi a importância de ter o stylist Dudu Bertolini para ajudá-lo durante os preparativos do desfile?
GD: Certamente foi um up nesse processo. Eu já admirava o trabalho e criatividade dele e, depois de conhecê-lo, fiquei fã do ser humano iluminado que ele é! Nos encontros, na mentoria e na prova de roupa, ele sempre incentivava, colocando a gente para cima, apontando os pontos fortes do nosso trabalho, a fim de tirar o melhor de cada um de nós. No dia do desfile, ele foi essencial e cuidou para que tudo saísse exatamente da maneira que tínhamos sonhado.
SdA – O que você espera a partir de agora?
GD: Ainda estou processando tudo o que aconteceu, mas muitas oportunidades surgiram depois do concurso! Tenho recebido mensagens e convites incríveis do mercado. Espero crescer profissionalmente e o próximo sonho que eu quero realizar é a consolidação do meu nome no mercado da moda. Graças à visibilidade do concurso e às oportunidades que ele está me trazendo, acredito que esse sonho vai se realizar em breve.
E assim, Guilherme finaliza nossa entrevista dando início a uma nova jornada promissora no mundo da moda brasileira, autoral e responsável, reescrevendo ditados populares brasileiros, que caem por terra ao se deparar com a criatividade do estilista. E quem um dia acreditou que “o passado é uma roupa que não serve mais” precisa conhecer o trabalho desse novo talento.
Vida longa aos novos criadores brasileiros que acreditam na força da matéria-prima nacional para dar vida aos seus sonhos!
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Ficha técnica: Coleção Arô: Criação: Guilherme Dutra Styling: Dudu Bertholini Beleza: Max Weber Bases da coleção: Cataguases, Dalila Ateliê Têxtil, RenauxVview, Teray Têxtil, Tecidos Constâncio Vieira e Círculo
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