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moda & estilo

A nova cara da alfaiataria masculina

25 de julho de 2022 | 0

Quando se falava em moda masculina há uns anos, a primeira imagem que vinha à cabeça era, certamente, a de um homem vestindo uma clássica alfaiataria. Peças bem cortadas, milimetricamente ajustadas ao corpo, com acabamentos perfeitos parecendo que saiu direto da Savile Row – rua onde você vai encontrar os melhores alfaiates do mundo. Mas a moda masculina mudou, evoluiu. Hoje, ela se encontra num lugar mais plural e livre de amarras clássicas que antes a limitavam. E assim, a alfaiataria também se transformou.

Anos 1990 e a afirmação da tradição heterossexual 

Ao analisarmos a alfaiataria nos últimos 30 anos, podemos ver o quão carregada de símbolos ela vem.  

Nos anos 1990, por exemplo, serviu como um uniforme que diferenciava os homens heterossexuais dos homossexuais. Nesta época, os gays eram pejorativamente associados ao vírus HIV, portanto, era “necessário” um afastamento visual do estereótipo, que por sua vez se apropriou de roupas mais livres e ousadas. 

Por isso, vimos uma grande mudança da moda masculina dos anos 1980 para os anos 1990, em que a pegada das marcas por roupas mais tradicionais passou a se mostrar bem mais presente. Isso fica bem visível em seriados como Friends, Seinfeld e até mesmo nas nossas telenovelas nacionais. 

Anos 2000 e o regressar da moda masculina 

Versace e o homem metrossexual, em 2001.

Já nos anos 2000, vemos a alfaiataria se mostrar mais atualizada, com a efervescência do chamado “homem

metrossexual”, que se personifica em uma figura que vive nas grandes metrópoles e busca cuidar mais da sua aparência.  

A geração atual pode até encarar essa mudança como uma coisa óbvia e sem muito significado, mas essa reviravolta visual no homem foi, de fato, uma busca à essência da moda masculina, onde o homem se importava com a moda. E isso reflete claramente na alfaiataria que, por sua vez, se mostra mais ajustada à silhueta do homem, se aventurando um pouco mais nas cores e texturas, fugindo do enfadonho azul-marinho e cinza. 

A alfaiataria masculina hoje  

Perdurando esse estilo anterior por cerca de duas décadas, a alfaiataria masculina havia perdido o reinado nos últimos anos, dando espaço para o streetwear, o hype que veio junto com o universo dos sneakers. A moda que mistura elementos do mundo do esporte com a cultura de rua ficou em forte evidência nos últimos 10 anos, quando grandes nomes como Kanye West, Supreme, Pharrell Williams e Virgil Abloh foram ganhando notoriedade nesse universo. Abloh, designer da Louis Vuitton e falecido em 2019, chegou a afirmar: “o streetwear definitivamente vai morrer nos anos 2020”. 

Louis Vuitton para Kendrick Lamar

Eu não diria que o streetwear vai de fato morrer, mas o estilo vem dando lugar a uma nova alfaiataria nessa atual geração da moda. Por isso, definir a alfaiataria apresentada hoje não é fácil, pois acredito que a sua essência se dá exatamente pela não definição e, sim, pela experimentação: de novas formas, modelagens, texturas, tecidos e versatilidade.  

Acho que se a alfaiataria atual escolhesse uma palavra que a define, seria versatilidade. E essa característica está presente em duas partes essenciais: material e modelagem. 

Dior, por Kim Jones.

Quando vi o costume da Louis Vuitton, em seu último desfile, feito para o rapper Kendrick Lamar, ficou muito claro a cara dessa nova alfaiataria e como ela vai guiar a moda masculina, nos próximos anos.  

O movimento das peças em algodão faz total sentido com o momento de transformação que estamos vivendo, em que buscamos cada vez mais trabalhar com matérias-primas naturais. As marcas se atentam a sua responsabilidade social junto às criações que produzem. 

O diretor artístico Kim Jones também repensou a alfaiataria quando desfilou a coleção de Primavera/Verão 2023 da clássica casa de moda francesa Dior. A coleção, que continua a jornada de revisitar as peças icônicas do Monsieur Dior, traz uma alfaiataria moderna, solta e cheia de movimento. 

O Brasil representa muito bem, obrigado 

É claro que não poderia deixar de ressaltar aqueles que estão também fazendo o seu nome com essa nova fase da alfaiataria, pois aqui, no Brasil, temos fortes criadores que não deixam nada a desejar. 

A X Brand, por exemplo, marca comandada pelo estilista Alex Santos, procura sempre questionar padrões com a sua moda agênero, mesclando cortes clássicos com visão moderna e desconstruída. Isso resulta em peças de alfaiataria cheias de estilo, de movimento e de liberdade. 

A alfaiataria masculina revisitada é a aposta da XBrand, do estilista Alex Santos, parceiro Sou de Algodão | Fotos: divulgação

Outro nome que também busca recriar peças tradicionais de alfaiataria é a Anacê. A marca do duo criativo Ana Clara Watanabe e Cecília Gromann é outra que não acredita que a moda deva ser encarada pela distinção de gênero, e isso se traduz perfeitamente nas peças que as estilistas apresentam. É uma alfaiataria que traz inspirações clássicas, mas sem abrir mão do olhar atual. A fluidez das peças mostra bem a nova cara da alfaiataria. 

Se você olhar para a moda e traçar uma linha do tempo, vai conseguir enxergar perfeitamente um movimento cíclico, onde as tendências vão e voltam. Repaginadas, com novas formas, padronagens e até transitando entre gêneros, elas sempre retornam. E com a alfaiataria acontece o mesmo, não que ela entre e saia de moda, mas a sua forma vem mudando e se adequando ao tempo. Esse é o ciclo da moda. 


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