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moda & estilo

Como surgiu a tabela de tamanhos da confecção e por que a padronização é importante

28 de janeiro de 2021 | 4

Você já deve ter se perguntado: mas quem foi que estabeleceu as medidas padrões das roupas que eu visto? Para começar a entender estes critérios, é preciso voltar no tempo. A história da tabela de tamanhos da confecção começa muito antes da era moderna industrial.  

A tabela de medidas surgiu com a evolução histórica da construção do vestuário a partir do século XVIII. Isso porque havia a necessidade de produzir roupas similares pela demanda dos uniformes das áreas militares, marinha e exército. Então, os alfaiates realizaram uma pesquisa de antropometria (medidas do corpo), iniciando, assim, um estudo para construção da tabela de medida corporal e sua adaptação para a indústria do vestuário. O intuito era viabilizar a produção em escala através da padronização das medidas. 

Dessa forma, na metade do século XIX, com o desenvolvimento de maquinário de costura e a padronização das medidas do vestuário, houve uma importante mudança. O modo da produção do vestuário alterou-se do sob medida para o “pronto-para-vestir”, alcançando a grande massa da população urbana.  

Junto com essa alteração, houve mudanças importantes a respeito do desenvolvimento do molde e do conhecimento de anatomia do corpo, pois as pesquisas antropométricas progrediram. As tabelas de medidas desenvolvidas pelos alfaiates, continham as principais medidas de circunferências e alturas. 

Se existe uma tabela de tamanhos da confecção, por que ainda existe divergência de medidas entre marcas? 

Nos últimos anos, sem um padrão antropométrico atualizado, as indústrias moldam suas peças de roupas conforme o tipo físico do seu público-alvo. Com isso, definem seus próprios corpos padrões que servem de base para a modelagem e a tabela de medida, definindo, assim, os tamanhos de roupas a serem confeccionados. 

Contudo, em 1968, a ISO, entidade que coordena padronizações mundiais, estabeleceu que todas as medidas das peças de vestuário devem ser adequadas ao biotipo de cada país. 

Abravest – Associação Brasileira do Vestuário –, criada em 1982, representante da indústria do mercado de moda brasileiro, apoia totalmente a normalização das tabelas de medidas do vestuário feminino, masculino e infantil. A entidade considera que as medidas estabelecidas por tamanhos têm como objetivo melhorar as condições dos produtos no âmbito do conforto, segurança e vestibilidade. 

Com a padronização das medidas do corpo feminino brasileiro, por exemplo, seria possível determinar um padrão de biotipo correspondente ao público que a empresa pretende atingir. 

Além disso, a ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas , que integra a ISO no Brasil, criou comitês específicos para definir algumas tabelas referenciais de medidas do corpo humano, servindo para as confecções e consumidores, tais como: 

ABNT NBR 13.377:1995 Medidas do corpo humano para vestuário – Padrões referenciais. Em 2006, a ABNT realizou o Projeto de Revisão da NBR 13.377 – Têxtil e Vestuário – Padrões do corpo humano – Tabela de medidas referenciais. A norma antiga deixou de existir, sendo substituída por medidas referenciais infantis, masculinas e femininas. Esta última ainda está em construção. 

ABNT NBR 15.800:2009 Vestuário  Referenciais de medidas do corpo humano  Vestibilidade de roupas para bebê e infanto-juvenil. 

ABNT NBR 16.060:2012 Vestuário – Referenciais de medidas do corpo humano  Vestibilidade para homens corpo tipo normal, atlético e especial. 

A norma de medidas referenciais femininas da ABNT ainda está em ajustes finais e deve ser submetida à aprovação antes de sua publicação final. 

No Brasil, as medidas estão sendo revistas 

Em função da variação de tamanho entre as marcas nacionais e devido à alteração significativa da forma do corpo humano nestes últimos 10 anos, o Brasil realizou o projeto SizeBR (Estudo de Caracterização Antropométrico Brasileiro), via SENAI CETIQT (Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil). A iniciativa estudou, de 2009 a 2017, as formas dos brasileiros para desenvolver tabelas de corpos padrões para atender varejistas, confeccionistas e os consumidores de roupas. Foram abrangidos os principais centros de consumo distribuídos pelas regiões do país – Sul, Sudeste, Centro Oeste, Norte e Nordeste. 

Para verificar e digitalizar as medições corporais de homens e mulheres, entre 18 e 65 anos, utilizou-se o body scanner (provador). Este instrumento opera com a tecnologia de luz branca e trabalha com refletância, gerando uma imagem em 3D por nuvem de pontos, cuja função é obter as medidas do corpo humano e transferi-las para o computador. Ao final do ano de 2014, finalizou-se a pesquisa de campo e iniciou-se o trabalho de tratamento dos 10 mil dados coletados. 

Após tratamento, foram geradas tabelas de medidas, submetidas ao corpo de professores de modelagem do SENAI CETIQT, para construção de bases de modelagem e validação de forma aplicada. O processo foi finalizado, em 2017, com a tabela de tamanhos da confecção dregião Sudeste. 

Body Scanner TC² do SENAI CETIQT | Fonte: SENAI CETIQT 
Pontos anatômicos automáticos, visualizados no programa do Body Scanner NX16 | Fonte: SENAI CETIQT

 

O projeto contou com a parceria do Comitê Brasileiro de Têxteis e do Vestuário (ABNT/CB-17) e a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). O objetivo do estudo era igualar as tabelas de medidas das confecções nacionais, considerando as particularidades e características de cada tipo de corpo de cada região do país. Em função da miscigenação de raças, constatou-se que é quase impossível determinar um corpo padrão feminino ou masculino para todo o território nacional. 

Com a categorização dos principais tipos de corpos e dos tamanhos de cada região do Brasilexistirá um planejamento mais assertivo na customização de massa. Assim, a indústria nacional de moda poderá desenvolver produtos em conformidade aos padrões nacionais. 

Além disso, o SizeBR identificou e classificou a mulher brasileira em 7 biótipos; ampulheta, ampulheta inferior, ampulheta superior, colher, retângulo, triângulo e triângulo invertido. E o homem brasileiro em 5 biótipos: atlético, normal, pleno, corpulento e abdominoso. 

Biotipos femininos | Fonte: SENAI CETIQT

 

Classificação dos biótipos femininos | Fonte: Adaptado de VURUSKAN AND BULGUN (2011) 

 

Classificação dos biótipos masculinos. Fonte: Adaptado de FINSTERBUSCH et. al., 2000

Mesmo com as novas padronizações, entende-se que cada empresa tem a liberdade de selecionar o tipo físico e os tamanhos desejados para seus produtos e coleções. Mas, é necessário demonstrar ao cliente com quais medidas a marca está trabalhando, evitando devoluções e falta de confiança nos produtos 

Neste sentido, é possível realizar o processo de padronização dentro de uma mesma empresa, especialmente naquelas que trabalham com fornecedores diferentes – como magazines e grandes marcas de moda. 

Principais mudanças e vantagens: 

  • Tabela de tamanhos da confecção mais aproximada dos corpos dos brasileiros;
  • Adequação das tabelas existentes ou chancela das tabelas já utilizadas pelas empresas;
  • Redução dos índices de devolução de roupas vendidas em lojas ou e-commerce;
  • Redução do desperdício de materiais na produção;
  • Possibilidade de identificação dos biotipos ideais do seu público-alvo;
  • Elaboração de tabelas adaptadas às necessidades das empresas a partir das características do seu público-alvo;
  • Etiqueta com indicação e estatura ou biotipo, além do tamanho.
Etiqueta com o biótipo feminino. Fonte: SENAI CETIQT

A padronização da tabela de tamanhos da confecção também facilitará a compra online, apresentando uma maior confiabilidade no tamanho da peça que o consumidor vai receber. Já para os lojistas, a padronização com a identificação de tamanhos tende a reduzir o número de trocas de peças. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

ABNT NBR 13377:1995. Medidas do corpo humano para vestuário: padrões referenciais. Rio de Janeiro: ABNT, 1995. 

ABNT NBR15800:2009. Vestuário – Referenciais de medidas do corpo humano – Vestibilidade de roupas para bebê e infanto-juvenil. São Paulo: ABNT, 2009. 

ABNT NBR16060:2012. Vestuário – Referenciais de medidas do corpo humano – Vestibilidade para homens tipo normal, atlético e especial. São Paulo: ABNT, 2012. 

BASTOS, Sérgio; SABRÁ, Flávio. A forma do corpo da mulher brasileira. Rio de Janeiro: SENAI CETIQT. 

DINIS, Patrícia; BASTOS, Sérgio. Biótipos femininos e masculinos. Rio de Janeiro: SENAI CETIQT. 

DINIS, Patrícia; CARVALHO, Cristiane. O corpo e suas medidas. Rio de Janeiro: SENAI CETIQT. 

FINSTERBUSCH, Karin; MOSINSKI, Erich; POHL, Herbert. Fundamental principles of garment pattern design: OPTIKON System. GermanyInstitute of Textile and Garment Technology, 2000. 

VURUSKAN, A.; BULGUN, E. Identification of female body shapes based on numerical evaluationsInternational Journal of Clothing Science and Technology. Vol. 23, No. 1, p. 46-60, 2011. 


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