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algodão & sustentabilidade

“Sustentabilidade é pré-requisito para o mercado de moda nos próximos anos”, afirma fundador da Cotton Move

22 de janeiro de 2021 | 0

Conversamos com José Guilherme Teixeira sobre sustentabilidade na moda e o impacto que uma iniciativa como a Cotton Move pode ter no universo têxtil brasileiro

A responsabilidade ambiental das indústrias têxteis é um assunto que vem tomando um espaço necessário nas discussões sobre moda. No Brasil, apenas em 2019, a produção média têxtil foi de 1,2 milhão de toneladas, de acordo com a Abit – Associação Brasileira da Indústria Têxtil. Dados como este colocam o Brasil como o quarto maior produtor têxtil do mundo.

Com números gigantes, a geração de resíduos também impressiona. Mas, o que é feito deles? Pra onde vão? Pensando nas soluções destes problemas, José Guilherme Teixeira, graduado em moda com de mais de três décadas de experiência na cadeia de suprimentos na indústria têxtil, fundou a Cotton Move.

A empresa surgiu em 2018 depois de muitos anos de pesquisa e atua dentro dos conceitos de Reciclagem e Circularidade. No parque industrial de 16.000m², que fica no interior de Minas Gerais, são produzidos tecidos e peças finais a partir de resíduos de fábricas têxteis e itens pós-consumo. A partir daí, os produtos são ressignificados e comercializados para outras empresas, criando um sistema sustentável na cadeia.

Além disso, a reciclagem também economiza energia, diminui a emissão dos gases de efeito estufa e também evita a contaminação do solo por produtos derivados de petróleo.

Conversamos com José Guilherme sobre essa iniciativa pioneira no Brasil e como a sustentabilidade na moda é urgente. Confira a entrevista completa com o fundador da Cotton Move, também parceira Sou de Algodão.

José Guilherme Teixeira, fundador da Cotton Move

SdA – Como funciona a linha de produção da Cotton Move e de onde vêm os retalhos?

Utilizamos todos os resíduos da cadeia do jeans, inclusive o descarte pós-consumo. Junto com a empresa Souza e Cambos, para este ano, temos capacidade para atender 1.300.000 peças. Atuamos na venda de projetos circulares para grandes varejistas ou marcas próprias. Entregamos a peça pronta, construída com resíduos do próprio processo produtivo do cliente ou da sua comercialização.

SdA – A Cotton Move nasceu em 2018, mas desde 2010 a ideia existia. Por que você acha que levou tantos anos até a sua implementação de fato?

A ideia de fazer produtos sustentáveis existe desde o final dos anos 90. Por diversos anos tentei pôr em prática, mas sempre encontrando grandes dificuldades. Algumas vezes por estrutura financeira, industrial, interesse do varejo ou do consumidor. Em 2018, junto com o departamento de sustentabilidade de um grande varejista de moda, desenvolvemos um projeto de pré-consumo da cadeia do jeans que se consolidou, em 2020, com o 1º produto circular do Brasil. Para ser circular o descarte do pós-consumo tem que gerar um novo produto em sua cadeia e, por informações obtidas no mercado, somos a 2ª empresa mundial a ter esta condição industrial e a 1ª certificada no mercado de jeans circular. Hoje, os grandes varejistas, além de atenderem os desejos do consumidor em adquirir produtos mais sustentáveis, também têm seus compromissos ligados à sustentabilidade. Isto é pré-requisito para o mercado de moda nos próximos anos.

Peça produzida a partir de retalhos têxteis. Foto: divulgação

SdA – A questão dos resíduos têxteis ainda é um grande obstáculo para as boas práticas ambientais de pequenas e grandes empresas. Qual o papel da Cotton Move neste cenário? Acredita que é um incentivo para a criação de iniciativas com o mesmo propósito?

O maior obstáculo da cadeia têxtil e na de outros produtos é que ainda não se conscientizaram de que os resíduos gerados e seus danos ambientais não são de responsabilidade da sociedade. A responsabilidade é de quem produz e comercializa os produtos (vender também envolve questões de sustentabilidade). Já temos uma legislação em vigor sobre o assunto desde 2010. Envolve custos fazer de maneira mais sustentável? Sim, envolve. Mas é hora de investir em ações significativas de sustentabilidade: o maior obstáculo é a mentalidade empresarial e o nosso papel é ser referência para soluções sustentáveis no mercado que atuamos. Que isso provoque outras iniciativas em diversos segmentos.

SdA – Quantos colaboradores atuam hoje na Cotton Move e quais as principais políticas para o público interno?

Em nosso processo produtivo, hoje, estão envolvidas 4 empresas com cerca de 800 colaboradores. Trabalhamos informando e implantando políticas de boas práticas e processos sustentáveis na qualificação de nossos parceiros. São pré-requisitos para algumas certificações e para participarem do projeto. E também adotamos ODS que fazem parte das 17 metas globais estabelecidas pela ONU.

SdA – Como funciona o processo de fabricação de tecido com base em resíduos de jeans?

Aplicamos processos regenerativos e de logística reversa em todas as etapas industriais: fiação, tecelagem, confecção e pós consumo. Construímos o produto, ou seja, a peça pronta com os resíduos das etapas industriais e o descarte do consumidor.

Jaqueta produzida no sistema de reciclagem. Foto: divulgação

SdA – Você teve alguma experiência anterior, pesquisas ou visitas que inspiraram a implementação da Cotton Move?

Sim, várias. Uma longa história que envolve principalmente vivência, pesquisa e visitas. São quase 34 anos de indústria e varejo de moda.

SdA – Qual a importância de um movimento como o Sou de Algodão para a Cotton Move e o mercado?

São inúmeros os aspectos positivos e importantes. Envolve o que a fibra natural nos oferece, os aspectos sociais e econômicos e a questão de ser uma matriz nacional que envolve indústria de transformação. Além de toda contribuição que o Sou de Algodão já faz em divulgar e fomentar os benefícios, creio que, em um futuro próximo, poderemos ter um link com o movimento e seus parceiros para utilização de nossa plataforma com soluções de produtos sustentáveis. Estamos captando investidores para ampliar o projeto e oferecer produtos circulares na cadeia têxtil.

Para conhecer mais sobre a Cotton Move, clique AQUI.

Confira também a entrevista com a professora Francisca Dantas Mendes, da USP, sobre resíduos têxteis e sustentabilidade na moda.

 


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