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moda & estilo

Pigmentação natural: o tingimento sustentável de tecidos.

25 de setembro de 2019 | 3

Desde sua origem, a moda sempre utilizou recursos naturais para suas criações, seja como matéria-prima de seus tecidos e acessórios ou como insumos para a produção de suas obras.

Um ponto decisivo das peças de roupa é, sem dúvida, a cor que o produto carrega. Um jeans azul, uma camiseta branca ou um vestido vermelho, cada um passa por um longo processo de tingimento que, atualmente, dispõe de muitas maneiras alternativas de realização.

Uma dessas alternativas se destaca justamente pelo seu aspecto sustentável: a pigmentação natural. O uso de frutos, flores ou outros recursos para o tingimento de tecidos tem crescido muito, tanto nas grandes fábricas quanto nas produções voltadas ao slow fashion.


Tingimento Natural no 1º Desafio Sou de Algodão + Casa de Criadores.

Casos interessantes do uso de tingimentos naturais em produções artesanais são os de quatro projetos de estudantes do 1º Desafio Sou de Algodão + Casa de Criadores.

Henrique Campos, estudante de Design de Moda pela Universidade Anhembi Morumbi, sempre se interessou por moda e arte. Com inspiração e vivência na botânica, hobby de seu pai, e na natureza, parte fundamental de sua religião, o participante do concurso vinculou o uso desses recursos às suas obras.

Henrique criou a coleção Ilê, linha de peças que remetem à cultura afro-brasileira e às religiões de matriz africana, onde a natureza e suas cores são peças-chave. O amarelo de suas peças vem do açafrão; o verde, da couve e da salsinha; o azul índigo e o roxo da beterraba.

Moodboard

 

Look coleção Ilê do 1º Desafio Sou de Algodão

“Queria desvincular a ideia do tingimento natural do algo rústico, queria mostrar que isso pode ter muita personalidade. E o algodão ajudou muito com isso, ele se adere muito bem ao tingimento natural”, diz o estudante.

Mario Cezar, estudante do curso de Designer de Moda da UTFPR (campus Apucarana/PR), criou a coleção Luz de todas as cores, que inova ao utilizar a água de chuva para a pigmentação das peças. Os materiais usados vão do tom amarelo do açafrão até, surpreendentemente, uma cor azul proporcionada pelo feijão preto.

 

Segundo Mario, o tingimento natural se relaciona bem com peças 100% em algodão, aderindo e fixando bem a cor. Além disso, esse processo se relaciona muito bem também com a cultura do País. Tanto que os materiais usados em sua produção são recursos quase que intrínsecos ao cotidiano do brasileiro. Isso fica ainda mais claro em sua coleção pelo fato de uma de suas principais inspirações vir de um trecho da música Flor de Algodão, do cantor Fagner: “fruto na mão, chuchu, agrião, pepino, tomate. No chão do sertão”.

Respondendo a questão se é possível tingir um tecido de algodão que já está tingido, Camila Amaral, do curso de Design de Moda da UFMG, traz a união da chita e o tingimento natural que, por sua vez, ressignifica o tecido e suas cores. Tornando os tons diferentes do comum e trazendo à tona a versatilidade do tecido, sua coleção demonstra que, de forma a mudar a visão geral sobre a chita, o tingimento natural dá outra cara ao tecido.

Antes e depois do processo de tingimento do primeiro look do desafio Sou de Algodão + Casa de Criadores

O Ateliê Fomenta, finalista do concurso e formado pela dupla de estudantes da Faculdade Santa Marcelina, Fellipe Campos e Fernando Carvalho, utilizou o chá preto que, devido a seu tom escuro, elevou a característica de páginas envelhecidas da Roupa Documento desfilada na 45ª Casa de Criadores.

Resultado do processo de tingimento com chá preto.


O uso de pigmentação natural nas marcas parceiras Sou de Algodão

Uma das formas da Sueka, se posicionar sustentavelmente é justamente pelo tingimento de alguns de seus produtos. Com uso de tecido confeccionado em uma pequena cooperativa do Rio Grande do Sul, o processo de coloração é feito artesanalmente, sem adição de corante e seco ao sol, com beterraba, cúrcuma, casca de nozes e outros ingredientes naturais.

Processo de tingimento e seu resultado

E não para por aí: diferentemente do que muitos imaginam, o uso de corantes ou pigmentos de origem natural não se restringe às produções voltadas ao slow fashion. Cada vez mais, marcas que produzem em grande escala têm se dedicado a esse método.

Exemplo disso é a Malhas Menegotti que, além de trabalhar com tecidos de algodão sustentável com a certificação BCI (Better Cotton Initiative), possui uma linha de produtos pintados com corantes de urucum, carmim, clorofila, cúrcuma e anil. Esse tingimento natural visa reduzir o impacto ambiental, a diminuição do uso de insumos e a economia de água e de energia.

Fotos: linha Nature, da marca Mahara Green, com tecidos Menegotti.


Corantes naturais não se restringem só à moda

Dacorda, marca que produz peças artesanais e de decoração criadas a partir de cordas de algodão, utiliza a casca de jabuticaba no tingimento de seus materiais.

A coloração roxa da fruta permite a produção de uma tinta de mesma cor que, ao entrar           em contato com a coloração branca das cordas, cria um tom rosado que agrega muita    autenticidade aos produtos.

Resultado do processo de tingimento em jabuticaba


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