O consumidor criou o empresário sustentável
A indústria da moda vem passando por diversas mudanças, devido aos últimos acontecimentos no Brasil e no mundo. Indagações sobre o futuro, não só como serão os próximos desfiles, mas também como será a atuação das empresas e estilistas em relação à sustentabilidade e à responsabilidade social e, nesse cenário uma reflexão pode ser feita: o quanto a nova visão do consumidor pode impactar na conduta desses negócios e no posicionamento das marcas.
Vemos que não é de hoje que o mercado vem mudando e apresentando a nova geração de consumidores conscientes, que buscam a sustentabilidade em todas as etapas de um produto ou serviço, em outras palavras, levam em conta a origem da matéria-prima desde nacionalidade até a certificação, o meio ambiente, a saúde humana e animal, e as relações justas de trabalho. Ainda mais conectados e com o acesso instantâneo à informação, eles se tornaram mais exigentes e rigorosos com o que utilizam, por saberem que são agentes transformadores da sociedade por meio dos seus atos de consumo, mesmo sendo um único indivíduo.
TENDÊNCIA DE CONSUMO
O que comprova isso é o levantamento da Nielsen em 2019, em que 94% dos brasileiros destacam a importância da implementação de programas e projetos para melhorar o meio ambiente dentro das empresas. Visto isso, muitas já passaram a buscar por iniciativas para se posicionar de forma mais responsável e compartilhar um propósito, como é o caso das marcas de roupas que buscam valorizar o algodão sustentável brasileiro.
Vale ressaltar que, atualmente, 75% da produção da fibra é certificada pelo programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR) e 72% licenciada pela Better Cotton Initiative (BCI), tornando o Brasil o principal fornecedor da fibra sustentável, suprindo 30% da demanda do mundo. Além disso, 92% da produção se dá em regime de sequeiro, ou seja, irrigada apenas com a água da chuva. O Brasil é campeão mundial em produtividade nesse sistema, e apenas 8% da produção recebeu irrigação para o desenvolvimento da cultura.
E, para ser considerado sustentável, a produção do algodão precisa respeitar três pilares básicos do conceito da sustentabilidade: o ambiental, que rege boas práticas com foco na preservação dos recursos naturais e dos biomas onde a cultura está inserida, a social, onde o respeito e a valorização do capital humano proporcionam ambiente seguro e digno de trabalho, e, por fim, o econômico, com práticas justas que colaboram para o desenvolvimento do seu ecossistema de mercado e do país.
PODER DE DECISÃO
Visto tudo isso, entendemos que na cadeia da moda, o consumidor tem mais poder de decisão do que os fabricantes. E nos próximos anos, as roupas feitas com algodão sustentável ocuparão cada vez mais espaço nas vitrines e no guarda-roupa de muita gente. No Brasil, os grandes varejistas já começaram a trazer esses insights e transformar a indústria local e internacional. Eles são responsáveis, muitas vezes, por puxarem novas tendências. É uma questão do mercado incentivar a produção e o consumo em grande escala para a cadeia se desenvolver.
E nesse contexto todo, o Movimento Sou de Algodão, por exemplo, tem um papel importante, por navegar em todos os públicos, desde o produtor até o consumidor final, envolvendo todos em um único propósito: valorizar a importância desta fibra natural e democrática para a indústria têxtil e a economia do país. A iniciativa até maio deste ano, já conta o engajamento de mais de 200 marcas parceiras.
Para concluir toda a reflexão sobre o assunto, vemos o quanto estamos adentrando na era da transparência, em que ser sustentável não é um diferencial ou uma vantagem, mas sim, uma obrigação das empresas e uma questão de sobrevivência de mercado. Hoje, o consumidor tem acesso direto e dialoga com as marcas para conhecer a conduta e as pessoas por trás dos negócios. Tudo isso já começou e as pessoas já estão cobrando e as companhias terão que aderir a essa nova realidade.
*Artigo originalmente publicado no jornal O Estado de São Paulo em 17/06/2020
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