O algodão é o limite
Em parceria com o Movimento Sou de Algodão, João Pimenta mostra no SPFW toda a versatilidade da matéria-prima.
Saias sereia, mangas bufantes e até couro feito de algodão. Um dos estilistas mais criativos da atualidade, João Pimenta mostrou que basta uma matéria-prima – no caso, o algodão – para criar roupas que vão do clássico, baseado na camisaria tradicional masculina dos tecidos da Cataguases, por exemplo, ao vitoriano, com suas mangas e golas exageradas, passando pelo étnico, conquistado com um elaborado jogo de patchwork e fios coloridos, criando grafismos surpreendentes.
Esse é o segundo desfile feminino do estilista no SPFW e o primeiro feito em parceria com o Movimento Sou de Algodão – a dobradinha foi uma sugestão de Paulo Borges, idealizador da semana de moda e nome à frente do evento há 46 edições.
Depois de visitar uma fazenda e ver de perto a plantação e a colheita, João teve dois meses para dar vida aos 36 looks, feitos, vale ressaltar, a muitas mãos, estendendo a parceria a um pool de colaboradores: os bordados que reproduzem a flor do algodão, vistos em um blazer, por exemplo, são da Cooperativa Bordana, enquanto o trabalho de látex sobre algodão, que resultou em uma espécie de couro vegano, com brilho intenso, são fruto da troca com a Coopflora.
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Créditos: Agência Fotosite (Marcelo Soubhia)
Entraram em cena, ainda, os alunos do Senac, onde Pimenta é consultor criativo, que ajudaram a trabalhar o moulage visto em algumas peças.
A coleção, aliás, é puro exercício de volume e construção, a começar pelos tecidos: com diferentes tons de sarja, o estilista foi criando um patchwork em cores emprestadas da natureza, como urucum, off-white, marrom, verde, azul e amarelo, eliminando qualquer aspecto mais básico do material.
Como era de se esperar, dado o histórico da grife, amarrações e recortes ajudaram a brincar também com a ideia de pesos e medidas – se a saia lápis é seca, a camisa esbanja tecido em babados, e cordinhas de algodão desenharam a silhueta mesmo nas produções mais bufantes. Mantendo-se fiel a sua proposta de uma coleção 100% algodão, o estilista não usou nenhum zíper ou botão em suas peças.
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Créditos: Agência Fotosite (Marcelo Soubhia)
Do viés sustentável da fibra, o uso de tecidos com esse caráter fez todo o sentido. Da Vicunha, o denim sustentável (Absolut Eco) visto na passarela se destaca pela redução de até 95% no consumo de água e até 90% no consumo de químicos, e fecha bem a proposta do desfile, que teve uma atmosfera de resgate do natural, da importância da sustentabilidade e, sobretudo, do chamado Brasil profundo – o casting era praticamente todo de negras e mestiças, a trilha era de Carlinhos Brown e, é sempre bom lembrar, o Brasil é um dos maiores produtores de algodão do mundo.
João Pimenta – feminino – SPFW N46 (22 out 2018).
Ficha técnica:
- Tecidos: Canatiba, Cataguases, Cedro Têxtil, ITM Têxtil, Santanense, Vicunha e Urbano Têxtil.
- Bordados: Cooperativa Bordana
- Acessórios: Trecê Brasil, com fios 100% algodão sustentável da Norfil
- Calçados: Reebok
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