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algodão & sustentabilidade

E-book gratuito traz guia de destinação de resíduos e sustentabilidade para pequenas empresas

18 de dezembro de 2023 | 0

Resultado de pesquisas e da experiência pessoal da empreendedora Amanda Santos, projeto quer facilitar a destinação correta e reciclagem de resíduo têxtil

 

Em um mundo cada vez mais consciente dos desafios ambientais, a gestão sustentável de resíduos se torna uma peça-chave para a transformação de diversos setores, especialmente na indústria têxtil. Apesar de ser um assunto em alta, quando se trata de comunicação adaptada para micro e pequenas empresas do nicho, não é tão fácil encontrar materiais de auxílio.

A partir dessa falta de visibilidade, Amanda Santos, empreendedora socioambiental, criou um material pioneiro sobre o assunto, o “Guia Prático na Gestão de Resíduos Têxteis”, a partir de pesquisa com mais de 40 empresas geradoras e recicladoras de resíduos. O e-book foi lançado no dia 11 de dezembro e já está disponível para download AQUI.

Batemos um papo com ela para descobrir a motivação, desafios e expectativas em relação ao impacto do e-book. Vem conferir!

Amanda Santos, autora do Guia e criadora do Selo Retece

SdA: Qual foi a motivação para lançar esse projeto?

AS: Trabalhar na indústria têxtil e perceber que algumas soluções são limitadas a portes empresariais me fez ter o primeiro contato com as dificuldades de destinar corretamente resíduos têxteis. Essa foi a motivação para iniciar meus estudos no tema. Mas o borogodó que faltava para aprofundar na temática e buscar soluções ampliadas/coletivas foi participar de uma competição de empreendedorismo na faculdade em que fiz minha graduação de Processos Gerenciais, o SENAC.

SdA: Como você identificou a necessidade de adaptações na comunicação para facilitar a destinação correta e reciclagem têxtil para microempresas?

AS: Em 2017, quando tentei destinar corretamente os resíduos têxteis da minha própria confecção e não obtive sucesso. A Ideia Crua passou a reciclar mais de 90% dos resíduos após 3 anos de negociação com diversas recicladoras de São Paulo. Em 2023, retomei os estudos no tema e constatei mais uma vez, através de uma pesquisa com mais de 40 empresas geradoras e recicladoras de resíduos têxteis, que a defasagem comunicativa persistia. Agora, tendo uma fonte de renda maturada com a Ideia Crua e após ter passado por uma perda pessoal que me afastou das atividades de trabalho, escolhi dedicar grande parte do meu tempo atuando como pesquisadora independente no tema.

SdA: Quais são os tópicos abordados no guia?

AS: O material foi elaborado pensando em introduzir o leitor no contexto das dificuldades dessa gestão, passando pelos temas: circularidade, tipos de resíduos têxteis, classificação de reciclagem, técnicas de gestão e otimização de processos. Os tópicos são adaptados ao contexto das micro e pequenas empresas, como geração e controle, segregação, o que não fazer, destinação correta, inspirações e soluções.

SdA: De que maneira o lançamento do guia pode contribuir, em longo prazo, para estudos e pesquisas na temática da gestão de resíduos têxteis?

AS: Está tudo relacionado à (re)educação. Quando colocamos isso para ações ampliadas, as implantações têm sido burocráticas, custosas e pouco práticas, o que ocasiona desistências na efetivação das ações de sustentabilidade. Adaptar comunicações é trabalhar, primeiramente, no viés educacional e de acessibilidade, focando em motivar os tomadores de decisão dentro das empresas. O propósito é o primeiro passo para que, no longo prazo, a transparência seja normalizada, facilitando a captação desses dados de maneira estruturada e que embasarão as pesquisas do futuro. Este é um guia que convida à ação (já com uma metodologia validada) e não apenas à reflexão.

Os resíduos têxteis representam de 25% a 35% da produção brasileira | Foto: pexels

SdA: Qual é o papel do guia na adequação da comunicação de entidades, normas e legislações à realidade de micro e pequenas empresas no setor têxtil?

AS: As práticas de sustentabilidade, associadas à obrigatoriedade empresarial, é um campo relativamente novo, que pouco progride. O viés educacional é o único caminho para uma mudança factual e profunda, mas que deve vir adaptado aos receptores da mensagem, criando diálogos sobre o tema e não mais monólogos inspiracionais. Necessidade essa que já foi percebida e começou a ser efetivada no Brasil com o exemplo da ABNT PR 2030-ESG, lançada também em 2023.

SdA: Como sua experiência pessoal, enquanto empreendedora na indústria têxtil, influenciou na criação do guia?

AS: Ter começado a minha confecção na sala de casa – lavando telas de serigrafia no box do banheiro e me dividindo entre rotina com as filhas e visitas ao Brás, para compra de matéria-prima – me fez ter experiências desafiadoras e inesquecíveis. Tudo isso representa as causas que defendo em toda a minha trajetória profissional neste ramo. Então se a Amanda, mãe de gêmeas de primeira viagem, não decidisse tentar empreender para ficar mais próxima das filhas, hoje não haveria este Guia.

SdA: Como foi a decisão de oferecer o guia de resíduos têxteis gratuitamente?

AS: Natural. A missão com este guia foi clara desde o início: trazer acessibilidade! Considerando o público a que se destina, sei das limitações financeiras que poderiam ser um impeditivo na aquisição e atrasar ainda mais o contato e efetivação de práticas de sustentabilidade. Importante ainda dizer que todas as pessoas envolvidas trabalharam voluntariamente, desde as coautoras, revisores e designers.

SdA: Quais são as suas expectativas em relação ao impacto do guia dentro das empresas?

AS: São muitas e estimo uma progressão dessa consciência mercadológica coletiva, não apenas dentro das empresas, mas no mercado em geral, considerando que a temática de sustentabilidade se mostra urgente e carente de soluções cada vez menos idealizadas, marketeiras e superficiais. Seja por credulidade das mudanças climáticas, por pressão popular ou competitividade para garantir a próxima venda, as empresas terão que se adequar e a comunicação, interna e externa, essa é a etapa fundamental dessa transformação.

As primeiras expectativas que gostaria de ver cumpridas são que o mercado enxergue a importância da inclusão e isonomia das mães, não só de um ponto de vista tributário, mas comunicativo voltado para educação.

Espero que as MPEs entendam que cultura empresarial começa na concepção da marca e não apenas no início da contratação de colaboradores. Ter consciência de que o segundo ramo que mais emprega no Brasil, o têxtil, tem 73% da sua força de trabalho feminina e condições de trabalho precarizadas com impactos socioambientais ainda piores, é uma questão sistêmica de descaso e desassociação.

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