A responsabilidade social de uma marca e a valorização da diversidade nas empresas
Falar sobre diversidade nas empresas é ir além de comerciais e posicionamentos em redes sociais. É reconhecer que serviços e produtos precisam ser criados por pessoas diferentes umas das outras.
Imagine-se no centro de sua cidade, onde circulam muitas pessoas. Elas não chegam a reparar umas nas outras, porém, todas têm uma sensação em comum: o incômodo pela existência de tanta gente. Agora, imagine que você vai abandonar esse fluxo frenético e simplesmente parar. Assim, do nada, simplesmente ficar ali estático, no meio de tudo, no centro.
Pronto, você deixou de ser invisível. Você foi além daquilo que as pessoas não viam, mas sabiam que existia, e se tornou algo impossível de se ignorar. Agora, todos precisam lidar com você, ali parado no caminho deles, nem que seja para desviar.
Começo esse texto assim para que, de alguma forma, você compreenda que este ser invisível e incomodativo sempre existiu na sociedade e na sua vida, só que você nunca tinha reparado. É o indivíduo que foge do padrão hétero, branco, cisgênero. Você sempre teve meios para ignorar essa existência na correria do dia a dia e seguir a sua vida.
Agora, quero que você deixe o centro da sua cidade e imagine-se dentro de uma empresa, com o mesmo ritmo frenético. Olhe em volta, enquanto você segue o fluxo de todas as demais pessoas e veja se existe alguma delas diferente do padrão. Tente encontrar este “perfil inusitado” na empresa em que trabalha, nas marcas que consome, nos filmes que assiste.
Diversidade é aceitar que somos todos diferentes
Pautar a diversidade dentro das organizações deve começar por admitir que somos todos diferentes. Se estamos esbarrando o tempo todo em versões de nós mesmos, não estamos, de fato, vivendo a diversidade como ela deve ser vivida.
A diversidade real dentro de uma empresa deve ser um “esbarrar de estranhamento” a cada encontro. Ela faz com que você olhe ao redor e compreenda que ninguém é igual a você.
Aí, eu pergunto: como pode uma marca, uma empresa ou um serviço querer atender um centro da cidade inteiro, se quem atua é sempre “um mesmo ser”? Se tudo o que é oferecido pelas corporações não foi feito por pessoas diferentes, como esses produtos e serviços vão ser adequados para outros perfis de cidadãos e cidadãs?
E, agora, você deve estar imaginando que eu estou querendo pautar o consumismo. Não, falo sobre o direito ao consumo responsável a partir de uma ótica de representatividade. É com responsabilidade social que marcas e empresas passam a atender as necessidades de todas as pessoas. E isso só é possível se a criação de produtos e serviços tenha partido de um grupo de profissionais diverso.
Sendo assim, uma marca não inclui como seu colaborador um recorte da população se o mesmo não estiver representado na concepção de público da empresa.
Valorizar a diversidade também é ser responsável
Quando a diversidade é valorizada dentro de um espaço profissional, o objetivo está além do marketing e de posicionamentos vazios. Isso também faz parte de uma cultura organizacional que se responsabiliza pela diversidade, porém, é necessário ir além. É urgente que empresas reflitam sobre a falta de inclusão.
A diversidade nas empresas não pode ser apenas comercial, porque assim não se gera inclusão. Estamos agindo ao contrário quando, enquanto CNPJ pautamos um posicionamento para ao mercado e, quando CPF somos parte daquilo que criticamos.
Então, qual o caminho correto? Como saber se a diversidade não é apenas um discurso que termina num comercial?
É necessário olhar para o grande centro da cidade que forma essa empresa e identificar se ela está tão diversa quanto a nossa população de fato é. Se o espaço profissional é composto por pessoas negras, transgêneras, refugiadas, homossexuais, com deficiência. São muitos recortes costumeiramente sub representados no mercado de trabalho, porém, existentes na sociedade, que seguem buscando soluções que sejam representativas para si.
Diversidade nas empresas começa pela empregabilidade
Enquanto responsável por um projeto de impacto social chamado EDUCATRANSFORMA, que capacita gratuitamente 200 pessoas transgênero por ano e as insere no mercado de trabalho, tenho atuado ativamente para que essa comunidade deixe de ser invisível e passe a produzir soluções para todos os públicos.
O recorte transgênero em específico é o mais marginalizado na nossa sociedade. Os dados de preconceito e violência são extremos e chocantes, enquanto a inclusão não alcança essas pessoas. Por isso, a diversidade só é real se todas as pessoas fizerem parte dela de verdade, tendo, inclusive, acesso ao direito à empregabilidade.
A diversidade nas empresas só é real se nos sentirmos esbarrando naquele ser estático lá do centro da cidade. O que parou para ser visto, percebido, reconhecido em meio à multidão. Pode ser, inclusive, que esse personagem seja você.
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