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empreendedorismo

“Não sou só um sonhador, sou um visionário”. Paulo Borges conta como é estar à frente do São Paulo Fashion Week há 26 anos

18 de junho de 2021 | 0

O São Paulo Fashion Week chega a sua edição 51 com muita história pra contar. Conversamos com Paulo Borges e, nessa entrevista exclusiva, o criador do maior evento de moda da América Latina compartilha suas memórias e fala sobre o poder transformador da criação e da cadeia produtiva.

Por mais um ano, o Sou de Algodão é parceiro do evento e divulga desfiles de marcas parceiras que valorizam o algodão e toda sua versatilidade. AQUI você confere o line-up completo e tudo sobre a edição.

SdA – Em 2020, o São Paulo Fashion Week completou 25 anos. Nesse período, como você avalia as transformações evoluções do mercado de moda público e da cadeia produtiva? 

PB – Em meados de 1990, a gente vinha de uma economia de mercado fechado, hiperinflação, era outra dinâmica. O SPFW se torna possível exatamente pela estabilidade e desenvolvimento do País. Sempre existimos com o pensamento de ser uma plataforma de comunicação e economia criativa para todas as áreas em torno da moda. Então, para a gente é muito importante pensar na cadeia produtiva brasileira, que vai desde a agricultura até o design e o consumo.

A cada momento, surgem novos desafios e a gente vem, de forma sempre inovadora, posicionando o SPFW como uma ferramenta para a moda que, nesse momento, transita por um campo digital e interativo. Conseguimos fazer esse salto para a transformação.

Nesses 25 anos, o SPFW deixa um legado muito importante com o protagonismo da indústria brasileira de criação e produção. Hoje, com o evento, o Brasil está em um lugar de país criativo.

Isabela Capeto
SPFW- N41
abril/2016
foto: Edu Lopes /FOTOSITE

SdA – O SPFW capitaneia muitas tendências conceituais e de consumo. Pra você, qual a estratégia mais assertiva para continuar em patamares elevados de qualidade como um dos eventos mais importantes do mundo? 

PB – É esse o olhar para o vanguardismo desde 2001. O SPFW já transmite desfiles ao vivo pela internet desde 2006, ele já falava de sustentabilidade e consumo consciente em 2007 e, em 2008, já falava de diversidade. Além disso, o papel do SPFW é ser interativo, inclusivo e ocupar lugares da cidade e se transformar num festival para além de uma semana de moda, trazendo a pauta da criatividade. 

SdA – No ano passado, os planos precisaram ser refeitos por conta da pandemia e da crise que assolou o mundo. Quais foram os grandes impactos na organização do SPFW e como a rota do evento foi recalculada? 

PB – A gente já tinha pensado e planejado esse formato como um festival ainda em 2018, bem antes da pandemia. Já tínhamos apresentado que, em 2020, seria lançado o evento com o tema processos criativos e assim foi. Além disso, foi também quando celebramos os 25 anos do SPFW.

Em março do ano passado, percebemos o movimento que estava acontecendo no mundo e o SPFW foi o primeiro grande evento a cancelar a sua realização, em função da pandemia. E aí, nós concluímos que o ideal seria trazer para 2021 o projeto todo planejado, que é o que nós estamos fazendo agora.

Eu não acredito só no ambiente digital, como a gente já não acreditava só no ambiente físico. De certa forma, por intuição e por sermos sempre questionadores dos nossos processos, já tínhamos pensado em tudo.

Ronaldo Fraga SPFW N47
Primavera Verão 2020
Foto: Danilo Grimaldi/ FOTOSITE

SdA – Em 2016, o algodão ganhou destaque com a parceria com o Sou de Algodão. Você acredita que existe uma mudança no olhar sobre o natural e o artesanal nos últimos tempos? Como isso pode impactar positivamente a moda? 

PB – Eu sou um grande defensor da moda brasileira e quando eu falo isso eu não estou dizendo só sobre o design, é sobre a cadeia é produtiva e industrial criativa do Brasil. A gente ainda subutiliza toda essa potência, valor e riqueza, que é muito única do Brasil. Temos um país com uma diversidade cultural enorme, é fenomenal sermos um dos maiores produtores de algodão do mundo. 

O algodão deveria ser a matéria-prima mais importante, porque é utilizada por todo o mundo que cria a moda ligada ao nosso estilo de vida mais despojado. Nosso papel enquanto fomentadores é gerar cada vez mais desejo no consumidor porque a cadeia produtiva circular nasce de um processo criativo e tecnológico que impacta uma cadeia de criação e uma cadeia de produção e de consumo. 

Sao Paulo, Brasil – julho/2006 – Desfile de Karlla Girotto durante o São Paulo Fashion Week – Verão 2007. Foto : Marcio Madeira / Agência Fotosite

SdA – Quais são as memórias mais marcantes e importantes nestas duas décadas de evento?  

PB – A minha vida é a própria história do São Paulo Fashion Week que, consequentemente, é a história contemporânea da moda. Grandes modelos brasileiras nasceram ali dentro, como Gisele Bündchen, Carol Ribeiro, Isabeli Fontana… todas as modelos que foram Angels da Victoria Secrets.

Quando eu vi a Gisele pela primeira vez, estava fazendo teste de casting para desfilar. Na ocasião, ela se tornou protagonista de uma coleção da Zoomp, onde entrava com um gato no colo, vestida de vermelho. A Vera Fischer desfilando para Fórum… Os desfiles que a gente ocupa a cidade na Rua Augusta, no Minhocão, nas margens do Rio Tietê, nos museus, no metrô, nas periferias… são imagens que vão me marcando muito.

Quando a moda virou assunto de novela, eu senti que ali alcançávamos um lugar importante: a popularidade da percepção e do conhecimento. Um momento especial foi a gravação da novela Celebridade, um capítulo gravado dentro de um desfile acontecendo de verdade e a plateia não sabia. Foi um acontecimento extraordinário, que me deu até um pouco de pânico!

A estreia de Gisele Bündchen no SPFW, para a Zoomp, em 1997.

SdA – Paulo, você ainda se considera o mesmo sonhador do início? Como é o sentimento de causar uma disrupção tão grande no cenário fashion brasileiro? 

PB – Eu tenho meu signo em Áries, meu ascendente em Áries a minha lua em Áries, então sou do fazer, do amanhã. Sim, eu sou aquilo que as pessoas falam que é ser visionário. Mas, aprendi, ao longo do tempo, que sou também um apaixonado. Me apaixonei por moda em 1982 e me apaixonei pela Regina Guerreiro. Eu trabalhava na área de computação e vim estudar em São Paulo, mas aí eu conheci a Regina e vi uma oportunidade. Descobri, então, que minha paixão pela moda está ligada às pessoas, à capacidade deste humano de pensar, criar, produzir e transformar.

Tendo a pensar que não sou um sonhador, eu sou um visionário que me coloco e me entrego.

SdA – O que o público pode esperar da parceria SPFW + Sou de Algodão? 

PB – Eu sou uma pessoa de pontes. Ter a parceria com uma instituição tão importante da economia e da produção de uma matéria-prima que é tão especial para a moda e para o País, é um sonho. Eu fico extasiado! Cada vez mais, eu quero que a gente tenha projetos juntos.

Sou de Algodão tem uma função estratégica, materializando formas de criação. É um caminho que tem que ser ampliado, porque esse é um movimento que transforma de forma irreversível o comportamento do consumidor.


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