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Tecido de algodão e antiviral: entrevistamos o empreendedor por trás dessa inovação brasileira

4 de julho de 2020 | 8

No início de março, quando o Brasil foi assolado pelo início da pandemia de Covid-19, uma empresa brasileira se posicionou de forma enfática. Foi quando a catarinense Dalila Têxtil,  parceira do movimento Sou de Algodão, começou os estudos de um tecido 100% algodão com tratamento antiviral.

A novidade foi recebida com entusiasmo pelo mercado e também pelo segmento de profissionais da saúde, que poderá contar com uma proteção extra durante o trabalho.

O tecido é inovador porque conta com um acabamento antiviral que utiliza nanopartículas de prata para atrair o vírus com carga oposta e destruir sua capa lipídica. Isso faz com que a contaminação seja evitada.

E para entender mais profundamente a atuação dessa tecnologia genuinamente brasileira, conversamos com o diretor da Dalila Têxtil, André Klein. Confira a entrevista completa:

André, a Dalila foi pioneira em trabalhar com a tecnologia antiviral em tecidos 100% algodão. Esse era um projeto antigo ou surgiu durante a pandemia?

Foi um projeto que nasceu logo no início da pandemia. Nas primeiras reuniões que fizemos, ainda no final de março, quando estávamos tratando a forma de equalizar os problemas que surgiram diante da parada repentina, colocamos em pauta a possibilidade do antiviral.

Sempre tivemos em nossos valores a cultura da reinvenção e o sentimento de contribuir. A ideia de buscar alguma solução em tecnologia antiviral nasceu naturalmente, e quando iniciamos a procura por alguma química que viabilizasse este processo. Nos embasamos no fato de que já tínhamos um acabamento antibacteriano, com a propriedade anti-odor. Foi a partir daí que iniciamos nossas pesquisas. Mas foram muitas dificuldades, as multinacionais conhecidas nesta área de acabamentos não tinham nada a oferecer neste sentido até então, os trabalhos em home-office também criaram dificuldades, mas fomos fundo no propósito e encontramos um caminho!

Quais substâncias ou métodos são empregados neste tecido antiviral para garantir a proteção necessária?

A tecnologia por trás do acabamento antiviral utiliza nanopartículas de prata para atrair o vírus com carga oposta, fazendo com que o mesmo se ligue aos grupos de enxofre presentes na superfície que envolve o vírus. Essa reação impede a ligação do vírus na célula hospedeira, bloqueando imediatamente sua replicação.

Então podemos dizer que esta é uma grande medida preventiva para conter o contágio, pois qualquer partícula de saliva contaminada que entrar em contato com o tecido tratado tem imediatamente sua replicação viral bloqueada.

Tecido antiviral também vem sendo procurado por confecções de roupas fitness, pijamas e moda casual | Foto: arquivo pessoal

O tecido, em si, tem a capacidade de conter partículas e também de não se infectar? É isso mesmo? Como acontece a quebra da camada lipídica do vírus, nesse caso?

O Corona Virus, Herpes Virus, Influenza, entre outros, são classificados como vírus envelopados, pois possuem uma camada bilipídica que os envolve, chamado de envelope viral. A tecnologia antiviral promove a ruptura da membrana e inibe de forma rápida o crescimento e a persistência do vírus na malha, com um mecanismo de ação que bloqueia a ligação do vírus nas células hospedeiras, impedindo que o microorganismo libere seu material genético no interior e reduzindo a capacidade infecciosa da célula.

Há algum direcionamento ou projeto para que o tecido seja também aproveitado por profissionais da saúde na linha de frente da pandemia?

Sim, acreditamos muito no uso desta tecnologia para promover um maior cuidado e proteção aos profissionais da área de saúde, muito expostos ao contágio. Firmamos uma parceria com um novo cliente, que conhecemos neste período da pandemia, que tem como foco a produção de uniformes hospitalares na linha médica. Já fizemos uma primeira produção de tecido para que eles fabriquem máscaras de algodão e agora estamos em fase de envio de novas amostras para que eles façam uma linha mais completa, como jalecos, capotes, aventais, entre outros. E nossa equipe comercial já vem avançando o contato com algumas outras empresas deste segmento. Queremos ampliar esta oferta o mais rápido possível, para poder ajudar a quem tanto precisa.

Como fica a questão estética do tecido antiviral? Vocês desenvolveram estampas e padronagens específicas para ter um approach com o público geral?

Esta é uma das questões mais interessantes. Como se trata de uma química aplicada durante o processo de fabricação, a malha não sofre alterações estéticas ou visuais. Ou seja, as marcas ou confecções que decidirem aplicar a tecnologia antiviral em seus produtos não precisam adaptar o estilo da peça, pois o tecido não muda. Consideramos isso oportuno ao momento, que pede pressa e agilidade para ganharmos a máxima escala possível, levando rapidamente esta solução para as pessoas.

Tag que acompanha o tecido antiviral para a confecção colocar na peça

Até agora, como anda a procura pelo tecido antiviral? E quais são os planos para o futuro no mercado brasileiro e/ou internacional?

As malhas com tecnologia antiviral já estão neste momento representando 20% das nossas vendas. Podemos dizer também que nunca recebemos tantas solicitações de envio de pilotagens em tão curto espaço de tempo. Temos sido surpreendidos também pela possibilidade de atuar em muitos clientes novos, na área fitness, hospitalar, underwear e sleepwear por exemplo. Mercados que tínhamos pouca ou nenhuma atuação, já que nosso foco é o mercado casual da moda, com mais ênfase no público masculino, apesar de as malhas hoje em dia não terem mais gênero. Acredito que em breve será relativamente fácil encontrar uma peça com malha antiviral em um ponto de venda, pois grandes magazines já estão avançando no processo de validação para lançar o produto, além de várias marcas espalhadas por todo o Brasil.

Você acredita que, durante e após a pandemia, a tendência seja uma moda mais preocupada com a saúde, o conforto e o meio ambiente? Acha que haverá uma demanda crescente para tecidos “funcionais” como este?

Eu sinceramente acredito que estas demandas surgem a partir de uma necessidade específica. A tecnologia antiviral apareceu em um momento muito oportuno, e rapidamente está ganhando força pelo benefício que traz diante do momento. Eu converso todo dia com pessoas que me procuram para saber onde encontrar peças de roupa ou máscaras com este acabamento. Quando acontece este movimento, de o consumidor final procurar o produto, as coisas aceleram bastante.

Então, aparentemente, está havendo uma ampliação ou até uma disrrupção no conceito de moda?

Sem dúvida haverá uma demanda crescente por tecidos funcionais, as pessoas estão descobrindo que suas roupas podem oferecer algo além apenas da estética. Ainda não é algo automático, que surge naturalmente no inconsciente do consumidor, mas vem sim ganhando relevância forte. Os próprios tecidos com apelo de sustentabilidade levaram 10 a 15 anos neste processo de maturação e só agora podemos dizer que já são vistos como obrigatórios para qualquer marca.

O mundo está mudando completamente nesta pós pandemia, então é difícil mensurar a velocidade e a forma com que vamos mudar nosso comportamento de consumo e o que efetivamente passaremos a valorizar. Nosso papel como empreendedores da moda será ficarmos atentos a estas mudanças e agirmos rápido. Os planejamentos de longo prazo perdem espaço para as ações de médio e curto prazo.

Veja AQUI a primeira empresa brasileira a lançar uma coleção com o tecido antiviral da Dalila Têxtil.


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