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Orientavida: inclusão socioeconômica de mulheres no interior de São Paulo

26 de agosto de 2017 | 0

Quem não conhece a expressão “ensinar a pescar”? E quando pensamos em sustentabilidade, ela ganha um sentido ainda maior, considerando o impacto que o trabalho junto às comunidades beneficiadas por um projeto social pode trazer na realidade das pessoas que por lá passam, para o resto de suas vidas. Foi com esse pensamento que a ONG Orientavida nasceu em 1999, em Potim, a 171 km da cidade de São Paulo. A ideia era criar uma organização que ajudasse mulheres da comunidade a terem uma renda, através da capacitação em uma atividade que pudesse gerar renda para a família, e garantir o sustento de suas casas.

Para isso, Celeste Chad, diretora voluntária da organização, criou uma equipe de gestão social, com psicólogas e assistentes sociais, que acompanha a entrada das mulheres para a ONG. Segundo ela, existe uma preocupação enorme em privilegiar as que realmente precisam de um trabalho para sua subsistência.  
Para que candidatas sejam aceitas para a capacitação e, posteriormente, para o trabalho como bordadeiras e costureiras, há uma análise da condição social de cada uma delas. Profissionais vão às casas das candidatas para verificar como vivem, e se estão aptas a receber uma oportunidade. Após essa triagem, se aprovadas, inicia-se, então, o trabalho de capacitação, onde essas mulheres participam de palestras e cursos. Muitas delas são chefes de família, e existe, também, um grupo dentro do presídio de Tremembé que atua na iniciativa. 

“Nosso principal foco é a inclusão social de mulheres, para que possam trabalhar e ter sua própria renda”, explica Celeste. O número de mulheres atuando na ONG depende do resultado de comercialização dos produtos, mas a diretora afirma que milhares delas foram capacitadas desde o início. Existe uma preocupação em oferecer a elas a possibilidade de obter ganho financeiro, através do trabalho, e, no caso das presidiárias, que terão liberdade condicional em poucos anos, garantir que, ao voltarem à sociedade, tenham uma ocupação que lhes garantam sustento e reintegração social.  O principal produto da Orientavida é o bordado, mas elas também produzem almofadas e bonecos de pano. Entre seus produtos mais famosos, estão os bichos, produzidos para os Irmãos Humberto e Fernando Campana, que empregam os produtos em suas obras de design, e personagens da Disney.

O sonho de chegar à Disney, através do artesanato

“Nós procuramos a Disney por muitos anos, queríamos ser licenciados e não conseguíamos. Até que a artista Ana Strumf foi acionada por eles para fazer uma ação, e o OK dela teve como contrapartida a nossa participação”, conta Celeste. Dessa união resultou o prêmio internacional  “Best Alice in Wonderland home Collection”, em 2010. Daí em diante, a Orientavida produziu várias outras coleções para a Disney, até que, finalmente, chegou a hora do principal e mais conhecido personagem da empresa, o Mickey Mouse. 
“Para nós foi um divisor de águas. Fazemos Mickey monocromático, estampado, coisas que eles não fazem. Nos deram essa liberdade.” 
E o famoso ratinho da Disney continua ajudando as mulheres de Potim. A mais recente parceria da ONG é com a empresa de calçados Arezzo, que encomendou 2.000 bonecos do personagem. Para atender o pedido, cinquenta mulheres vão produzi-los, e toda a renda da comercialização será revertida para a entidade.

 

Transparência, responsabilidade e impacto social

Celeste explica que, como eles são a única ONG licenciada da Disney no mundo, passam anualmente por uma auditoria internacional, de âmbito fiscal, social e trabalhista. Porém, para dar continuidade à excelência do trabalho, a Orientavida, irá contratar uma consultoria para analisar o impacto social que gera na comunidade. O objetivo é entender o que realmente acontece na vida das bordadeira e costureiras, o que melhorou, a importância da capacitação e como o trabalho favoreceu financeiramente a condição da vida delas, além de mensurar o número de mulheres já capacitadas.  
“Queremos acompanhar o resultado do nosso trabalho na vida direta da pessoa. ”

inclusão socioeconômica de mulheres no interior de São Paulo

 

Inclusão e reintegração social

Em 2017, a ONG fechou um contrato com o grupo Iguatemi, no Brasil todo, para produzir 156 mil clutches destinadas ao Dia das Mães. Durante seis meses, essa tarefa abriu trabalho e salário para 587 mulheres, das quais mais de cem eram reeducandas do Presídio de Tremembé. “O bacana desse projeto [no presídio] é que nós oferecemos ocupação e renda. E a cada três dias trabalhados, um dia é diminuído da pena.”
Mas as reeducandas também são beneficiadas financeiramente. A diretora explica que o salário delas é depositado para o estado, responsável pela gestão do valor, que normalmente é revertido em produtos, como de higiene pessoal. O processo de capacitação com as reeducandas é igual ao que ocorre na base da ONG. Elas participam de palestras socioeducativas, recebem capacitação e matéria-prima para produzir peças.
“Nós percebemos a transformação. Elas ficam empoderadas. Dizem que pensam em sair de lá com a profissão de bordadeiras.”
Mas o processo de inclusão não para por aí. Se as reeducandas forem da região em que a ONG está localizada, existe a possibilidade, inclusive, de elas trabalharem para a organização quando entrarem para o regime semiaberto.

Sustentabilidade, do início ao fim

Assim como cada passo da ONG prevê responsabilidade, o mesmo se aplica à matéria-prima. Celeste explica que o forte deles é o algodão, e que optam por trabalhar com tecido sustentável. Além disso, todo retalho, fruto da produção em todos esses anos, acabou se transformado em uma nova ação. Intitulada “Coração Bordado”, os restos de material viraram corações, que podem ser usados como chaveiros ou pingentes para bolsas, entre outras finalidades.
“Queremos saber de onde vem a matéria-prima que utilizamos. Isso é muito importante para nós. Nós não descartamos nada, a não ser que seja para doar a outras instituições.” Ela enfatiza haver o cuidado para que o produto final saia com preço justo e que cause impacto real em quem o consome, como uma parceria responsável pela cadeia toda.

 De olho em outros públicos, buscando a inclusão de outras gerações

 Os próximos passos ainda estão no papel, mas já apontam para novas campanhas de integração social. Uma delas será voltada à geração de renda para idosos. “Vamos estudar formas de prepará-los para produzir, de maneira leve, que seja gostoso, ajudando-os a ter remuneração.”  A outra visa a qualificar jovens da comunidade. Para tanto, a ideia de Celeste é negociar parceria com um clube que possui grande infraestrutura para skatistas em Guaratinguetá, cidade vizinha a Potim. “Nesse caso tudo vai depender da educação. Eles têm que estudar, ter boas notas e presença nas aulas. Nós vamos incentivar o aprendizado do skate como forma de eles se profissionalizarem e chegarem a campeonatos”, conta.
O pensamento continua firme, desde o início. Ensinar a pescar para chegar mais longe. Seja um novo ofício ou uma habilidade, com públicos diversos, a ONG segue beneficiando a comunidade, com foco em Sustentabilidade e inclusão socioeconômica. Iniciativas assim fazem os olhos brilharem, pela beleza dos produtos, e, mais do que isso, enchem os nossos corações com a esperança de que dias melhores virão!

Fotos: Acervo Orientavida


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