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moda & estilo

Conheça a história do Jeans, a peça mais democrática de todas

8 de junho de 2020 | 1

O colunista Jorge Wakabara desvenda as origens do clássico mais popular do mundo da moda. A história do jeans tem raízes no trabalho dos imigrantes e atravessou séculos e gerações. 

Primeiro, um pouco de história para você: o movimento “clássico” da moda era de cima para baixo. A nobreza criava e exibia signos estéticos que a diferenciava dos outros, e os plebeus corriam atrás – a burguesia, os comerciantes menores e, por fim, as classes mais baixas. Imitavam, adaptavam como podiam, e aquilo entrava em voga. 

A real história do jeans

De lá para cá, muita coisa mudou. Alguns dos grandes responsáveis por isso são os cool cats. Sabe? Essa é a expressão usada para se referir a caras descolados. Eles não são necessariamente aristocráticos (a maioria definitivamente não é), mas são admirados pelo estilo, carisma e espirituosidade.

A glamourização do malandro: as pessoas querem ser aqueles caras. Se o jazz hoje parece uma música muito elitizada, ícones do jazz eram hostilizados lá para trás por serem pobres, negros e pretensamente amorais – mas quem era bacana sabia que gostar de jazz e andar com essa turma fazia sua vida ser bem mais divertida e profunda.

E esse é apenas um dos exemplos de quando o movimento da moda começou a se embaralhar: a partir do momento em que os criadores começam a se apropriar de símbolos da contracultura nessa lógica de “todo mundo quer ser um cool cat“, a regra do movimento de cima para baixo falhou e entrou em parafuso. Hoje, o mais comum é que a estética que vem de comunidades periféricas seja uma das tônicas do sucesso nas passarelas e nas araras.

Mas, para que toda essa volta? Bom, o tema desse artigo é uma das peças mais icônicas dessa quebra da hegemonia de cima para baixo. Na sua origem, o jeans era do povão, um símbolo do trabalhador braçal assim como o bronzeado. Se o bronze mudou a partir de Coco Chanel, que inventou que saudável era tomar sol (e os ricos embarcaram nessa ideia, que veio de uma órfã selfmade woman!), o jeans não teve um pioneiro que disse “olhem aqui, isso é legal”. O segredo foi se transformar de uniforme de minerador para de matinê. Mas calma, a gente já chega lá!

O jeans é a estrela principal nos looks: (esq. para dir.): Coca-Cola Cloathing, Scalon Jeans e Amapô | Fotos: divulgação

Os primórdios do jeans

O tecido jeans feito em algodão já existia antes e era popular no século 17, segundo registros históricos, entre trabalhadores da Europa. Há quem diga que a origem da palavra jeans seja Gênova e da palavra denim seja “de Nimes“. Portanto o tecido conhecido como um clássico americano é… europeu!  

Em 1800, já estava sendo exportado para o novo mundo. E em 1871, uma parceria entraria para a história da moda. O alfaiate nascido na Letônia e naturalizado americano Jacob W. Davis pediu ao alemão Levi Strauss uma parceria financeira para conseguir comercializar calças jeans com rebites em locais estratégicos – isso as tornaria bem mais resistentes para o tranco que tinham que aguentar nas obras. Nascia um clássico (das mãos de imigrantes, diga-se de passagem). 

No século 20, surgia uma outra “invenção” que adorou o jeans, como se o tecido tivesse nascido para ela. Era a juventude. Se antes você passava de criança para adulto, de repente surgiu uma escala. E um mercado! Música, filmes e vestuário eram produzidos especialmente para essa “nova faixa etária”. Um de seus maiores símbolos, James Dean, estava a serviço da rebeldia com um belo par de inseparáveis jeans. Os cool cats sacaram: jeans era legal, resistente e anti-caretice. 

Versátil, confortável e cheio de estilo. Os looks em jeans (esq. para dir.): Trama Jeans, Santista e Capricórnio Têxtil.

 

O efeito não foi imediato. Quer um exemplo? Brian Epstein, o empresário dos Beatles, no começo fez um square washing nos quatro rapazes de Liverpool para que eles se tornassem mais apresentáveis para os pais das garotas que gritariam em seus shows. Saía o jeans e a jaqueta de couro, entrava a alfaiataria – justinha, moderna, mas alfaiataria. Não durou muito: nos anos 1970, o jeans já era a melhor roupa casual que você e os Beatles podiam usar. As mulheres, que se emancipavam de várias coisas, inclusive das saias, adoravam. Os hippies, que aumentavam as bocas das calças deles, também. 

O jeans e a descontração eterna  

No entanto, o jeans acabou confinado no corredor das roupas casuais para sempre. Até hoje, não é considerado adequado pelas regras de etiqueta que você apareça em uma ocasião mais formal usando jeans.  

Britney Spears e Justin Timberlake, então um casal, ousaram na premiação American Music Awards de 2001 em looks total jeans formando parzinho e viraram um símbolo (tem quem chame de cafona, tem quem considere genial). A passarela também tenta: de Prada a Balmain, passando por Givenchy e Balenciaga, todas apresentaram produções em jeans. O preço, claro, é de luxo; mas nenhuma empresária bilionária usou jeans com essas etiquetas num jantar de gala. 

Britney Spears e o então namorado Justin Timberlake, no American Music Awards, em 2001. Look viralizou na época e foi considerado de genial a cafona | Foto: The Grosby Group

 

Existem colecionadores de jeans fanáticos, e a maioria desses garante que a melhor calça jeans é a produzida no Japão: tingimento praticamente artesanal com índigo natural, tecimento vintage e um cuidado extremo com detalhes são as fórmulas do sucesso. A produção é pequena, o preço vai lá para cima.

Por sua vez, o jeans brasileiro já foi uma potência da nossa moda (isso antes da importação em massa; agora a peça já pode vir pronta e etiquetada do exterior). As nossas modelagens valorizavam as curvas femininas como nenhuma outra. Todo um mercado cresceu e se estabeleceu em cima do jeanswear entre os anos 1980 e 1990. 

Jeans foi feito para durar 

Nos anos 2010, o jeans virou vilão, símbolo de uma moda não-sustentável principalmente pela quantidade de água que é gasta na sua produção. Justo ele, tão resistente, tão básico – e com um ótimo custo-benefício por causa disso! De lá para cá surgiram alternativas: o jeans reciclado, lavanderias que gastam menos água e fazem tratamento antes de devolvê-la para o rio, além de técnicas de lavagem que usam o laser no lugar deste recurso para um mesmo efeito. 

E, uma pergunta: você sabe de onde vem seu jeans? Sabe a composição dele? O 100% algodão é considerado mais resistente do que os outros. E o CEO de uma das maiores marcas de calça jeans já declarou em entrevista que a peça não é para ser lavada toda hora. Ele mesmo diz que quase nunca lava as dele!  

Areje depois do uso no sol, esfregue água e sabão apenas no local onde deixou cair catchup, passe um pano úmido… Isso faz com que a calça dure muito mais. Agora que você conhece o passado do seu jeans… garanta o futuro! 


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