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por dentro do movimento

Da semente à prateleira

17 de janeiro de 2018 | 0

Tudo começou em 1969, com uma fabrica de costura que fazia camisetas polo para diferentes marcas. O carro-chefe era a montagem de peças, e o negócio ia bem. Mas conforme o processo se solidificou, outras empresas foram nascendo com a ideia de se tornar uma cadeia vertical.

“O processo se iniciou só com costura, na Highstil, e dela foram nascendo as outras indústrias que hoje compõem o grupo, que conseguiu alinhar o trabalho desde a escolha da semente até a [peça pronta] prateleira”, conta Ariel Horovitz, diretor comercial da Norfil, fiação de algodão do grupo.

Da costura, o grupo passou a produzir o próprio tecido, depois começaram a tingir, isso na década de 70. Em 1989, nasce a Norfil. 

“A partir daí já começamos a ter a formação da cadeia: fiação do algodão, produção do tecido, tingimento e montagem das peças, tudo feito internamente”, diz Ariel.

Em 2003, eles se associaram a fornecedores de algodão e montaram uma nova unidade de negócio na parte agrícola. “Nesse momento, já enxergávamos a cadeia têxtil como um todo. Isso significa que essa produção agrícola não existe para fazer peso, ela existe para fazer o melhor algodão possível, porque nós mesmos vamos consumi-lo na Highstil.”

Com tanto cuidado para controlar todos os processos de produção, o resultado só poderia ser uma empresa verticalizada que possui um altíssimo nível de rastreabilidade e qualidade em tudo o que faz. Produzir o próprio algodão para as peças a serem confeccionadas implica em ter uma fibra de qualidade inquestionável, mas isso também é um trabalho que demanda testes e controle que nunca vão cessar.

“Somos uma empresa que se preocupa em como esse algodão que está na fazenda vai rodar dentro da fiação, por isso a busca incessante em torná-lo cada vez melhor. Para tanto, as sementes são minuciosamente escolhidas e há estudos dentro da fiação para identificar como o resultado de cada semente se comporta dentro da fiação”, explica Ariel. 

Sementes

E para entender como cada semente vai se comportar, só plantando, além de aguardar como será a reação delas de acordo com o clima, já que algumas dão mais quando há mais chuva, e, outras, com menos. O plantio sempre ocorre na mesma época, com variações muito pequenas. Por exemplo, na Bahia, onde as fazendas de algodão do grupo estão instaladas, a semeadura acontece em dezembro, e a colheita a partir da segunda quinzena de junho. 

A seleção de sementes, às vezes, é uma caixa de surpresas, então é preciso insistir nos testes para alcançar resultados cada vez mais satisfatórios, e não apenas em termos de produtividade, mas também de qualidade, que vai definir o rendimento na fiação.

A experiência do grupo, com sua visão de cadeia completa, mostra que a persistência em entender a funcionalidade das sementes ajuda, inclusive, na hora d plantio. Isso significa que, além das condições climáticas, é preciso testar a distribuição no solo.

“As sementes se comportam de maneiras diferentes, mas, na média, as colheitas são bastantes satisfatórias. Isso porque se chover mais que o esperado, uma parte da lavoura terá recebido sementes propícias justamente a esse volume maior de água. Assim como o contrário também ocorre. Ou seja, onde a chuva estiver ideal para determinada semente, vai ser fantástico, nos outros pontos, ocorrerá o esperado ou um pouco abaixo.”

Atualmente, nas duas fazendas do grupo, a produção chega a cerca de 20 mil toneladas de pluma de algodão por safra. 

Depois de cada colheita, quando já foram identificados os resultados das sementes plantadas, um relatório é encaminhado ao setor de compras de sementes, para que a aquisição das mesmas seja sempre melhorada a cada estação.

Toda a produção das cerca de 20 mil toneladas de pluma de algodão das fazendas na Bahia são voltadas para a Norfil, mas isso não supri a necessidade da empresa, então é necessário comprar de outros fornecedores, o que não muda o sistema de investigação da qualidade da fibra.

Para a Highstil, a Norfil oferece em torno de 5% de sua produção. Os outros 95% são vendidos para o resto do país. 

“Com a nota fiscal, é possível rastrear a semente, o fardo de pluma de algodão, o fio, o tecido, a peça pronta. Como a Norfil compra de outras fornecedores para suprir sua demanda, nós conseguimos saber, da mesma forma, de quais fazendas saiu o algodão que gerou x quantidade de fios.”


Sistema global

Quando empresas trabalham com marcas grandes, que são responsáveis e homologadas do BCI (Better Cotton Iniciative) – que atua para melhorar a produção mundial do algodão-, priorizando o consumo do algodão certificado, a nota fiscal que sai de uma fazenda e vai para Norfil é passível de rastreamento. Com a nota fiscal em mãos, a Norfil acessa um sistema global e lança informações da compra. A fazenda fornecedora automaticamente recebe um e-mail em que confirma ou não ter realizado a venda de tal fibra, o que comprovará a veracidade da transação e da certificação.

“O mesmo acontece conosco. A Norfil produz o fio e vende para grandes indústrias do mercado. Essas indústrias produzem e vendem peças já prontas para multimarcas. A nota fiscal vai atrelar todos os passos do processo, garantindo a certificação do algodão e do trabalho correto. Com isso, as marcas recebem esses créditos que foram se formando durante a cadeia produtiva e os mesmos são oferecidos aos consumidores como um produto mais sustentável e com uma rastreabilidade que garante essa situação.”

Ariel conta entusiasmado que a Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão) já está desenvolvendo essa rastreabilidade para que as empresas tenham isso em nível nacional também.

“Existe um movimento, cada vez mais rápido, de novas empresas quererem e fazerem parte do clube de boas práticas. Antes, quando falávamos em moda, eram cores e modelos. Hoje é sustentabilidade.”

 

Até a prateleira

Desde sua fundação, em 1969, a Highstil sempre buscou desenvolver e oferecer a seus consumidores peças de alta qualidade, o chamado produto premium. Durante todos esses anos, eles atenderam mais de 3.500 multimarcas em todo o Brasil. Atualmente, a confecção produz mais de 2 milhões de camisetas polo/ano.

Até que chegou a hora de fortalecer a marca própria em lojas próprias. Em 2013,  abrimos as primeiras lojas de varejo Highstil. Hoje são 14 lojas próprias (das quais quatro são outlets) e dez franquias espalhadas por dez estados do país, além de cerca de 3.000 multimarcas. Iniciamos a expansão para o varejo com uma loja, em menos de três anos chegamos à marca de 14”, explica Ron Horovitz, diretor da Highstil.

Com isso, a marca teve um crescimento expressivo. Ron diz que a visibilidade de vender moda masculina em lojas próprias da marca fortalece o produto, já que antes eles eram mais uma marca dentro de um determinado ponto de venda, e agora oferecem em suas lojas a mesma primazia no atendimento que dispensam em toda a cadeia de produção.

Fora isso, com o crescimento das lojas Highstil, cresceu também a oferta de produtos. Atualmente, a marca tem, além das camisetas polo, jeans, camisas, bermudas, sapataria, ternos, blazers.

“A cultura da empresa é ter o melhor produto do mercado. Dentro do mundo masculino, as duas peças que mais vendem são as polos e as camisas. Como nossa polo é a melhor do país, decidimos abrir mais uma planta para produzirmos camisas com a mesma excelência”, afirma Ron.

Devido ao fato de a Highstil ter a cadeia verticalizada e acompanhar o processo desde o início até o final, a marca consegue ter um preço mais acessível.  A gente consegue mostrar para o cliente que temos um produto 100% produzido no Brasil, e acho que hoje em dia as pessoas estão dando mais atenção a isso, porque, produzindo aqui, estamos dando oportunidade de emprego no país.”

Passo a passo

Todas as lojas Highstil possuem video wall ou “telão“ – série de monitores sobrepostos que formam uma grande tela e que pode apresentar imagens individualizadas ou uma única projeção – exibindo os processos de criação das peças, desde a plantação do algodão à disposição das mesmas nas prateleiras. Com isso, quem compra um produto da marca sabe exatamente como ele foi feito. É o jeito transparente da empresa mostrar ao consumidor de onde vem e como é feita a peça que ele está comprando e que vai levar no corpo.

“Nós temos retorno do nosso cliente, quando ele veste uma polo Highstil, o comentário é sempre o de que nunca vestira antes uma peça tão boa como aquela”, conta Ron.

Embora a Highstil exista desde 1969, criar uma marca que seja vendida em sua própria loja leva tempo. Atacado e varejo são dois modos de comércio bastante distintos. “Mas a cada mês nós conquistamos mais clientes, e eles voltam porque temos qualidade e preço.”


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