
Casa de Criadores chega à 48ª edição e inova com formato de episódios diários
André Hidalgo, diretor artístico da Casa de Criadores, diz que a prioridade é a diversidade no casting e dar lugar aos que não se sentem inseridos no mercado da moda convencional. Sou de Algodão apoia o evento mais uma vez.
O evento de moda autoral brasileira mais importante do ano chega a sua 48ª edição e será a 2ª no formato digital. A semana de moda da Casa de Criadores acontece entre os dias 26 e 20 de julho trazendo 37 marcas entre veteranas e estreantes, que exploram o máximo da criatividade no vestir. Entre as novidades nas passarelas, estão Mônica Anjos, Fkawallyspunkcouture, Berimbau Brasil, Felipe Caprestano, Jalaconda, Ateliê Criativa Vou Assim, Oroomin, Leandro Castro, Teodora Oshima e Brocal – marca da também cantora Tulipa Ruiz –, além da volta do estilista Gefferson Vila Nova ao line-up.
Por mais uma vez, o Sou de Algodão entra como apoiador do evento, juntamente com Santista Jeanswear e Ruby Rose. Este ano, o Movimento também lançará uma série no IGVT sobre o processo criativo de moda como forma de inspirar estudantes a participarem do 2º Desafio Sou de Algodão + Casa de Criadores. Os vídeos serão mensais e apresentados por Dudu Bertholini, Isaac Silva e Theo Alexandre em @soudealgodao e @casadecriadores.
As apresentações podem ser acompanhadas pelo site oficial, pelo canal do Youtube e redes sociais da CdC.
Batemos um papo com o diretor criativo da Casa de Criadores, André Hidalgo, que fala sobre o modelo de desfiles apresentados em episódios diários para o público e o investimento em novas linguagens.

SdA – André, você começou sua jornada profissional como jornalista, passando por grandes veículos. Como essa experiência influenciou seu trabalho hoje com a Casa de Criadores?
AH – Foi fundamental. Como jornalista – eu trabalhava no caderno Ilustrada, da Folha de S. Paulo –, comecei a pesquisar sobre moda, em especial a moda brasileira. Foi também com essa profissão que eu tomei contato com o trabalho de jovens criadores que estavam surgindo nesse cenário e, em 1997, realizei a primeira edição da Casa de Criadores com esse perfil de participantes. Isso foi moldando meu olhar e fazendo com que eu me tornasse curador do evento, função que eu exerço (com muito prazer) até hoje.
SdA – A Casa de Criadores é referência para a moda autoral brasileira e já revelou grandes talentos. Como é gerir um evento dessa importância e encarar as transformações do cenário da moda e dos eventos?
AH – Vou absorvendo as mudanças de maneira orgânica, até porque estamos no Brasil, onde tudo muda muito rápido. Tenho consciência sim da importância do evento, tanto para a moda brasileira quanto para os estilistas e as marcas participantes. Passamos recentemente por uma grande transformação, que foi transportar todo um conceito de evento presencial baseado em desfiles, para um formato virtual, onde a linguagem predominante é o audiovisual. Esse foi, talvez, o maior desafio que a gente já enfrentou em toda a história. Acredito que encontramos um formato bem bacana e nos transformamos numa plataforma multidisciplinar que envolve moda, artes plásticas, música e audiovisual.
SdA – A Casa de Criadores é impulsionadora da diversidade na moda desde o seu início. Como você avalia a evolução neste universo nos últimos anos?
AH – A moda reflete a cultura de um povo, de um país. Portanto, também reproduz conceitos e preconceitos que estão muito arraigados na sociedade. Isso significa que a moda sempre foi um campo muito aberto, mas, paradoxalmente, também muito fechado para corpos dissidentes. A Casa de Criadores sempre exerceu um papel muito importante que, num primeiro momento, ia na contramão de tudo o que a moda brasileira praticava. Somos conhecidos como um espaço aberto para todes. Quando percebemos a importância que a gente representa tem para profissionais que não se sentem contemplados pela moda brasileira, passamos a olhar com mais profundidade para essas questões. Hoje, procuramos ter cada vez mais representatividade criativa no nosso casting. E acho que estamos no caminho certo!

SdA -A parceria com o movimento Sou de Algodão já é de longa data. Qual a importância para a CdC dessa colaboração?
AH – Tem sido muito intensa nossa parceria e de uma efetividade absurda. Poucos parceiros ao longo da nossa história agregaram tanto ao evento e, o mais importante, aos estilistas e às marcas do nosso casting. O que aprendemos nesse tempo sobre o mercado, sobre a fibra e as dinâmicas de um verdadeiro espírito colaborativo só fez crescer ainda mais nossa história com o movimento. O Desafio Sou de Algodão + Casa de Criadores é, não só um case, mas um projeto muito consistente que tem descoberto talentos incríveis nas universidades e nos cursos de moda. E estamos em plena inscrição para a segunda edição do Desafio. Acredito que essa parceria só vai aumentar e gerar ainda mais frutos.
SdA -Tecidos naturais têm feito a cabeça de muitos estilistas hoje? Como você vê essa relação entre fibra e criação?
AH – Hoje os estilistas têm mais consciência sobre matérias-primas. Usar fibras e tecidos que tenham preocupações com questões socioambientais já faz parte do dia a dia de uma marca que olha para o futuro do planeta. E isso é o mínimo que se espera de quem trabalha com moda autoral, sem contar que as fibras naturais oferecem muitas possibilidades de criação.
SdA – Como você enxerga Casa de Criadores daqui 25 anos?
AH – Sinceramente? Espero que todas as questões que coloquei aqui sobre inclusão e diversidade já tenham sido plenamente superadas pela moda brasileira. Se isso acontecer, é um sinal de que fizemos nossa parte. E que venham novas questões e mais e mais talentos que contribuam para que o mundo do futuro seja mais justo, igualitário, democrático e criativo.

Casa de Criadores – Inverno 2019
Foto: Marcelo Soubhia / FOTOSITE
CONFIRA A PROGRAMAÇÃO COMPLETA DA 48ª CASA DE CRIADORES
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