
Upcycling couture: Lourrani Baas redefine a moda circular no Brasil
Da memória afetiva das colchas de retalho feitas pela avó às passarelas da moda autoral, a estilista Lourrani Baas transformou a ideia de reaproveitamento em linguagem estética. À frente de um trabalho que une upcycling, diversidade e ancestralidade afro-brasileira, a parceira do Sou de Algodão apresenta uma visão poderosa de como o vestir pode ser, ao mesmo tempo, sustentável, político e belo.
Nesta entrevista, ela fala sobre sua trajetória na moda circular, o movimento The Free Size, suas descobertas com o algodão e a influência das raízes afro-brasileiras em cada coleção.
SDA. Como surgiu essa paixão pela moda sustentável e quais desafios você enfrentou ao implementar o upcycling em suas coleções?
LB: Minha paixão pela moda sustentável — e, principalmente, pela moda circular — surgiu quando saí da faculdade. Percebi a possibilidade de trabalhar com resíduos, de transformar retalhos em peças de moda autoral. Isso me trouxe a lembrança da minha avó, que costurava colchas de retalho no interior. Entendi que poderia usar a criatividade para transformar esses resíduos em peças com informação de moda, tendência e alto valor de mercado.
O grande desafio é que muitas pessoas não fazem a associação direta com o upcycling, porque priorizo acabamento, qualidade e sofisticação. Trato o resíduo como matéria de alta performance. Chamo meu trabalho de “upcycling couture”, porque transformo o tecido reaproveitado em peças versáteis, duráveis e atemporais. Não é apenas sobre ajudar o planeta: é sobre adquirir uma peça de beleza e poder.

SDA. Você é a idealizadora do movimento The Free Size, que celebra a diversidade de corpos na moda. Como enxerga a evolução da representatividade corporal na indústria da moda brasileira e quais mudanças ainda são necessárias?
LB: O The Free Size nasceu em parceria com a Aliança Sem Estereótipos, da ONU Mulheres, justamente para celebrar a diversidade de corpos na moda. Nos últimos dez anos tivemos avanços, mas hoje vivemos um momento crítico. Segundo a Vogue Business, na última temporada de moda, 97,7% dos corpos nas passarelas eram magros.
Estamos enfrentando um retrocesso, marcado pela volta da extrema magreza, potencializada pelas redes sociais, pela geração Z, pelo TikTok e até pelo uso de medicamentos com fins estéticos. O The Free Size busca resistir a isso: conscientizar, enaltecer e mostrar o poder de corpos com curvas. Precisamos de uma nova revolução, como a do movimento body positive, para que esses dez anos de conquistas não sejam perdidos.
SDA. Se pudesse escolher um personagem histórico para vestir, quem seria e por quê?
LB: Eu escolheria duas mulheres. Primeiro, Frida Kahlo, por sua força e pela forma como transformou toda a sua trajetória em arte. Depois, Maria Antonieta, um símbolo da moda disruptiva. Ela usava o vestir como manifesto político e cultural, e gosto muito da sua história — especialmente por ter sido uma das primeiras mulheres a usar calça.
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SDA. Qual foi a descoberta mais inesperada ao trabalhar com o algodão em suas criações?
LB: Descobri o quanto o algodão é maleável e durável. Quando bem trabalhada, uma peça em algodão pode acompanhar a pessoa por muitos anos. Ele traz conforto, qualidade e reforça a ideia de uma moda que une estética e responsabilidade.
“Eu trato o resíduo como algo de alta performance. Não é só reaproveitamento: é transformação em peça de poder.”
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SDA. Como a ancestralidade e a cultura afro-brasileira influenciam seu processo criativo e a narrativa das suas coleções?
LB: Influenciam em tudo — não só no meu processo criativo, mas na minha vida. Minhas coleções sempre percorrem vivências conectadas às matrizes afro-brasileiras. Busco levar para a passarela a força das mulheres, das religiões e das culturas africanas, que me inspiram e potencializam meu trabalho.
Essa ancestralidade é um norte. Além de ser uma cultura extremamente rica, é uma fonte de poder e simbologia que nos acompanha diariamente. Por isso, faço questão de celebrar e homenagear essas raízes em cada criação.
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Conheça mais sobre o trabalho da estilista parceira Lourrani Baas no seu canal oficiais: @lourranibaas . Na nossa vitrine de marcas parceiras, você encontra mais empresas que constroem uma moda mais responsável ao nosso lado.

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