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Adriana Meira é baiana, artesã, estilista — e alguém que leva a intuição muito a sério na hora de criar. Suas peças misturam técnicas como colagem, bordado, pintura e costura, e também carregam histórias, memórias e influências que vêm de casa, da convivência com as pessoas e da cultura que a cerca. É nesse conjunto que Adriana constrói sua contribuição única para a moda brasileira.

Na edição N58 do SPFW, ela participou do desfile Manualidades, ao lado de outros 11 estilistas parceiros do movimento Sou de Algodão — um momento especial para celebrar o feito à mão, a força do coletivo e o algodão como base para a criação. Foi mais um passo marcante na trajetória de uma artista que entende a moda brasileira como um território de expressão afetiva e simbólica.

Nesta conversa, Adriana fala sobre o seu processo criativo, o papel da espiritualidade no trabalho, sua relação com o algodão e o jeito brasileiro de se conectar — que, segundo ela, é pura inspiração.

Artesanato, identidade e algodão como ponto de partida

SDA. Seu trabalho é profundamente enraizado em memórias afetivas e na cultura baiana. Como essas influências moldam o processo criativo das suas peças artesanais?

AM: Minhas criações nascem das vivências, das pessoas ao meu redor e também de um encantamento com o invisível — com a espiritualidade e a conexão ancestral. Acredito que é preciso sair um pouco da realidade, se permitir iludir, para que o colorido das ideias aconteça. As imagens se formam primeiro na mente, muito antes de chegarem ao papel ou ao tecido. Esse processo intuitivo é parte da minha forma de contribuir para uma moda brasileira mais sensível, afetiva e cheia de significado.

SDA. Costura, colagem, bordado, pintura… suas peças transitam entre moda e arte. Em que momento você sente que uma roupa “vira” uma obra?

AM: Acho que é na etapa da colagem, antes mesmo da costura final. Ali já começa a composição da obra. Mas é no momento em que a peça é finalizada, quando ela se encontra com o corpo de quem vai usá-la, que tudo se completa. É esse contato entre o objeto e seu “dono” que transforma a roupa em obra viva — e é nesse encontro que, pra mim, a moda brasileira ganha ainda mais sentido e potência.

SDA. Se você pudesse escolher um personagem histórico para vestir, quem seria e por quê?

AM: Adoraria vestir um rei ou uma rainha africanos. Seria uma experiência riquíssima, cheia de possibilidades criativas. E mais do que isso: uma oportunidade de escuta, de aprendizado, de entender os desejos, ícones e referências que fazem parte da história deles — e transformar tudo isso em figurino. Esses diálogos entre culturas também alimentam a moda brasileira, que é feita de cruzamentos, heranças e interpretações únicas.

SDA. Qual foi a descoberta mais inesperada ao trabalhar com o algodão em suas criações?

AM: O algodão me dá segurança. É um tecido firme, com uma estrutura que acolhe o que eu preciso aplicar — seja colagem, bordado ou pintura. Ele não escorrega, não “foge” das mãos, e isso faz toda a diferença no meu processo. O caimento também ajuda a compor um visual mais harmônico, mais limpo. Ele pode ser macio, mas nunca frágil demais. É como se fosse um terreno sólido onde a minha criação pode acontecer com mais liberdade.

Sou de Algodao SPFW N58 Foto: Gustavo Scatena /@agfotosite

SDA. Como o Brasil — e os brasileiros — te inspiram a criar de forma tão autêntica e responsável?

AM: O jeito que o brasileiro se relaciona é único. Existe uma amorosidade no nosso povo que me toca profundamente — e que atravessa o meu trabalho. Fazer amigos através da arte, receber afeto em forma de troca criativa… tudo isso é energia pura de amor e encanto. É o Brasil que me inspira a criar com o coração. E é essa energia, esse afeto, que eu acredito que a moda brasileira precisa preservar e valorizar cada vez mais.

Conheça mais sobre o trabalho da estilista parceira Adriana Meira nos seus canais oficiais: @adrianameiraatelier.